Na última terça-feira (7), o Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (GREA) do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) promoveu uma reunião científica com o tema “Operação Cracolândia”, comandada por Luiz Alberto Chaves de Oliveira, coordenador estadual de Políticas sobre Drogas da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo. A reunião abordou a interação entre as entidades de apoio e tratamento e os dependentes químicos que residiam na região da Luz.
O coordenador conta que, anteriormente, as ações adotadas em busca de solucionar a concentração de dependentes químicos no centro de São Paulo eram eminentemente policiais, buscando reprimir os usuários na região, o que não resolvia o problema. “Elas eram ineficazes”, conta o coordenador, que começou a tentar mudar este panorama a partir de 2008, iniciando um plano de reabilitação a longo prazo e reinserção social.
Se antes o estado de São Paulo não tinha leitos de internação a médio e longo prazo (30 a 90 dias) e os agentes não eram capacitados para lidarem com a dependência química, atualmente, o estado possui cerca de 400 leitos no Serviço de Atenção Integral ao Dependente (SAID), além de abrigos diurnos (Tendas) onde os moradores podem entrar e sair a hora que quiserem. “Eles podem se alimentar, tomar banho e aprender uma profissão com nossas oficinas”, conta o coordenador, que ressalta a importância deste aprendizado:
“A reinserção desses dependentes na sociedade passa pelo aprendizado de uma profissão.”
Porém, para que que estas ações pudessem ser postas em prática, segundo Luis Alberto, uma ação policial era necessária visando controlar o tráfico de drogas entre os usuários, dificultando a aquisição da droga e encorajando-os a buscar tratamento. Além disso, a dispersão dos usuários facilitaria a abordagem dos agentes. “Enquanto os policiais trabalham no centro, nós trabalhamos nas franjas, recebendo os usuários que estão saindo da região”, conta o coordenador, que também utiliza acompanhamentos de natureza médica para diagnosticar moléstias nos dependentes. “Muitos deles têm tuberculose, pneumonia, doenças de fígado, de rim e precisam de tratamento médico”, conta.
Outro ponto em que o coordenador toca é na necessidade do fim do preconceito contra os moradores de rua. “Eles não saem dessa situação pois não capazes”, declara o professor.
“O morador de rua é mal visto pela sociedade, não têm direito à moradia, direitos civis. Temos que superar essas dificuldades”.
Luiz Alberto ressalva, porém, que as ações desempenhadas na Cracolândia não são necessariamente as ações que devem ser tomadas no tratamento de dependentes químicos em outras circunstâncias. “Esse método é para pessoas especiais, em uma situação peculiar. O tratamento para outros dependentes não passa pelos processos realizados na Cracolândia”, afirma.
Grea
Visando a recuperação e prevenção da dependência química, foi organizado no IPq o Grea, grupo formado em sua grande maioria por estudantes da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), que desenvolve trabalhos na área de pesquisa, ensino, assistência e prevenção de álcool, tabaco e outras drogas desde 1981.
O grupo utiliza uma uma abordagem multidisciplinar, com equipe formada por psiquiatras, psicólogos e outros profissionais da área de saúde, provendo soluções para problemas de saúde relacionados ao uso de drogas. A equipe, que é formada em sua maioria por estudantes, busca atingir usuários, familiares, instituições governamentais, de ensino e empresas, desenvolvendo pesquisas, cursos, programas de prevenção, tratamentos e consultoria. Hoje o Grea é considerado como centro de excelência para tratamento e prevenção de drogas pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad).
Mais informações: www.grea.org.br