Diferentes domínios da função sexual são prejudicados devido à lesão, o que pode afetar a qualidade de vida
A paralisia dos movimentos de membros superiores e inferiores é o aspecto mais visível em pessoas que sofreram lesão na medula espinhal. No entanto, outros domínios são prejudicados, como a sexualidade, afetando a qualidade de vida dessa população, segundo pesquisadores da Divisão de Urologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Por isso, a importância de avaliar o grau da disfunção sexual e incluí-la no tratamento.
“Os médicos, em geral, estão muito preocupados com a reabilitação motora dos pacientes e negligenciam a avaliação sexual e o seu tratamento, tanto em homens quanto em mulheres. Um estudo mostra que, para os homens paraplégicos, o principal anseio é voltar a ter vida sexual, superando o retorno do movimento das pernas. Com os tetraplégicos, só o movimento das mãos supera o desejo de voltar a ter vida sexual, então isso tem um grande impacto para os pacientes”.
O alerta é do pesquisador e urologista do HC Eduardo de Paula Miranda, um dos autores de estudo que propõe uma nova ferramenta para analisar a disfunção sexual em homens com lesão medular: o Quociente Sexual Masculino (QSM).
Trata-se de um questionário de avaliação sexual em português e traduzido para o inglês, desenvolvido e validado no Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas, com 10 perguntas para avaliar os cinco domínios da função sexual: ereção, desejo, ejaculação, orgasmo e satisfação sexual.
“Esse questionário já existia para aplicação na população em geral, mas, pela primeira vez, foi utilizado para homens com lesão medular. Ele é rápido e fácil de ser aplicado”, afirma Miranda.
Diferentes análises
No estudo, os pesquisadores compararam o QSM com um questionário padrão de avaliação sexual, o Sexual Health Inventory for Men (SHIM), composto por cinco perguntas. Os dois questionários foram aplicados em 295 homens com lesão medular traumática em acompanhamento no serviço de Reabilitação Raquimedular do HC.
A prevalência de disfunções sexuais foi extremamente alta, de forma que desse total de pacientes, 159 não eram sexualmente ativos. De acordo com a pesquisa, as pontuações do QSM e SHIM se correlacionam, mas o QSM fornece uma avaliação mais abrangente da disfunção sexual.
“O SHIM é voltado mais para a análise da ereção, mas homens com lesão na medula espinhal têm muitos outros problemas. A aplicação do QSM nos mostrou que a incidência de problemas de ejaculação (89,4%) e orgasmo (74,5%) é muito alta entre os pacientes”, ressalta o urologista.
Entre os problemas detectados em pacientes com disfunção sexual, a partir da aplicação do QSM, estão: diminuição do desejo sexual (28,8%), falta de confiança para a sedução do parceiro (38,3%), insatisfação com as preliminares sexuais (48,8%), frustração com satisfação do parceiro sexual (54,6%), incapacidade de obter uma ereção (71,0%), dificuldade em manter a ereção (67,8%), falta de ereções completas (64,4%), problemas na ejaculação (89,4%), incapacidade de atingir o orgasmo (74,5%) e, insatisfação em geral com a relação sexual (51,1%).
“Entender a dinâmica da vida sexual do paciente possibilita várias intervenções médicas, por isso é importante esse tipo de avaliação com questionários. Existem remédios por via oral, medicações injetáveis, próteses penianas, entre outros tratamentos”, destaca Miranda.
A pesquisa também coloca que dos domínios avaliados pelo questionário QSM, o interesse sexual foi classificado mais alto por mais de metade dos pacientes. De acordo com o pesquisador, esses números são significativos porque confirmam que o interesse sexual é elevado na maioria dos homens com lesão na medula espinhal e reforçam a necessidade de cuidados dos médicos em estar ciente desse problema e compromete-se a discutir o assunto com seus pacientes.
O estudo foi publicado em janeiro, na revista Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, com o título Evaluation of Sexual Dysfunction in men with Spinal Cord Injury using the Male Sexual Quotient. A pesquisa teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisado do Estado de São Paulo (Fapesp).
Hérika Dias / Agência USP de Notícias
Mais informações: email mirandaedp@gmail.com