A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de São Paulo, em parceria técnico-científica com o Centro Colaborador do Ministério da Saúde em Vigilância da Saúde Bucal (Cecol) da USP, que reúne pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP) e da Faculdade de Odontologia (FO), divulgou no fim de maio os principais resultados da pesquisa Relação entre Qualidade de Vida e Condições de Saúde Bucal.
Os dados foram coletados em 2013 e se referem a crianças e adolescentes, de 5 e 12 anos de idade, respectivamente, residentes nos distritos administrativos de Parelheiros e de Engenheiro Marsilac, localizados no extremo sul da capital paulista.
As condições de saúde bucal consideradas na pesquisa foram a cárie dentária, os problemas de mordida (oclusopatias), a prevalência e a gravidade da fluorose dentária, as necessidades de tratamento odontológico e os impactos dessas condições bucais na qualidade de vida dessa população, avaliado pelo grau de dificuldade para realização de atividades do dia-a-dia. Conhecer essas condições é muito importante para identificar as ações necessárias para prevenir doenças e promover a saúde e, também, para o planejamento e organização dos serviços públicos odontológicos.
Foram examinadas por dentistas e auxiliares da SMS 1.179 pessoas (5 anos = 588, 12 anos = 591). Essas idades são as recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde para pesquisas desse tipo. A metodologia adotada em São Paulo é também a recomendada pela OMS.
Cárie dentária
Observou-se que aos 5 anos de idade 61,4% das crianças estavam livres de cárie no distrito de Parelheiros, mas apenas 38,6% no distrito de Engenheiro Marsilac. Para avaliar o significado desse valor, deve-se levar em conta que a OMS havia fixado que, para o ano 2000, essa porcentagem deveria ser superior a 50%. Como não foram fixadas metas para o período mais recente, essa referência é ainda hoje bastante utilizada em vários municípios para avaliar sua situação. Assim, essa meta, embora se refira a um momento no passado, ajuda a avaliar a situação na região do Extremo Sul de São Paulo, em 2013.
Aos 5 anos, as crianças de Parelheiros apresentaram 1,6 dentes, em média, atingidos pela cárie, mas a média registrada para Engenheiro Marsilac foi de 3,1. O valor médio obtido pela Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, em 2010, para a macrorregião Sudeste foi 2,1. Para 12 anos de idade, a meta da OMS para o ano 2000 foi de no máximo 3 dentes CPO – ou seja, dentes permanentes cariados, perdidos e obturados. A média CPO para Parelheiros foi 0,8 e para Engenheiro Marsilac 1,6 indicando diferença estatisticamente significativa entre os distritos paulistanos, embora em ambos tenha sido atingida a meta fixada pela OMS para o ano 2000.
O padrão 2 de distribuição da cárie dentária na população da cidade de São Paulo é semelhante à situação encontrada para a região Sudeste, e na comparação com outras regiões do mundo, pode ser caracterizado como de baixa prevalência. Mas predominou o componente “cariado”, tanto aos 5 quanto aos 12 anos de idade, indicando a persistência de dificuldades de acesso aos serviços odontológicos para tratamento.
A baixa prevalência da doença decorre do acesso da população aos fluoretos propiciado pelas políticas públicas que asseguram a fluoretação da água de abastecimento público e que estimulam a implementação de programas de escovação dental supervisionada com dentifrício fluorado em pré-escolas e nas escolas de primeiro grau.
Oclusão e fluorose dentária
Aos 12 anos de idade, a má oclusão estava presente em 38,7% dos adolescentes de Parelheiros e em 42,4% em Engenheiro Marsilac. A ocorrência desse problema na população brasileira foi de 38% em 2010. A má oclusão foi considerada muito grave ou incapacitante em 6,9% dos adolescentes de Parelheiros e em 7,8% em Engenheiro Marsilac.
Predominou a ausência de fluorose dentária em ambos os distritos. Entre os adolescentes com fluorose dentárias, as formas de maior ocorrência foram as muito leve e leve, observando-se 19,2% em Parelheiros e 13,4% em Engenheiro Marsilac. Tais valores correspondem às expectativas para situações de exposição a múltiplas fontes de produtos fluorados (creme dental, alimentos, água, dentre outras), assemelhando-se aos níveis encontrados em outros municípios brasileiros.
Aos 12 anos de idade apenas 0,5% foram classificados como tendo fluorose dentária moderada em Engenheiro Marsilac e 0,5% com fluorose dentária severa em Parelheiros. Assim, esses distritos paulistanos não se diferenciam do que vem sendo observado em outras localidades.
Tratamento odontológico e qualidade de vida
Em relação às necessidades de tratamento odontológico, a prevalência de crianças de cinco anos e adolescentes de 12 anos com necessidades de procedimentos restauradores é elevada com valores mais altos para o DA Engenheiro Marsilac. Em ambos os distritos administrativos, 39,8% dos adolescentes necessitam de uma ou mais restaurações dentárias, 7,5% necessitam de tratamento de canal e 5,2% precisam extrair um ou mais dentes.
Os impactos das condições bucais sobre a qualidade de vida foram, em geral, baixos, mas praticamente 100% dos adolescentes sentiram, em algum grau, esses impactos. Em ambas as regiões, eles foram mais intensos nos domínios relativos à dificuldade para comer e para beber. Valores superiores foram observados no DA Parelheiros.
As limitações funcionais registram escores de 3,9 em Parelheiros e 3,3 em Engenheiro Marsilac. O comprometimento do bem-estar emocional foi de 3,1 e 2,6 respectivamente. As condições de maior frequência de queixa relacionadas a esses impactos foram a retenção de resíduos alimentares, o mau hálito, dor e dificuldade para beber ou mastigar alimentos quentes/frios, preocupação com o que as outras pessoas pensam; e inibição do sorriso/risada na presença de outros adolescentes.
Com informações da Assessoria de Comunicação da FSP
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