Rosemeire Talamone/Assessoria de Comunicação da USP em Ribeirão Preto (com colaboração de Maria Aparecida Ferreira)
Segundo dados do Ministério da Saúde, 15% das mulheres são inférteis, sendo que metade delas vai precisar da reprodução assistida – técnicas utilizadas por médicos para viabilizar a gestação quando há dificuldade de engravidar. Tais procedimentos não têm cobertura, nem pelo Sistema Único de Saúde (SUS), nem pelos planos de saúde. E o custo é bastante elevado.
Em Ribeirão Preto, desde 1992, essas mulheres encontram o seu direito individual – que é garantido pela Constituição Federal – respeitado e de forma gratuita, exceto pelo custo dos medicamentos. Elas podem contar com o Serviço de Reprodução Assistida do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP, que em 2012 comemorou 20 anos e a marca de 1.750 crianças nascidas com a utilização das técnicas de reprodução assistida.
O coordenador do Serviço, professor Rui Ferriani, do Departamento e Ginecologia e Obstetrícia da FMRP, destaca que este foi o primeiro serviço público de reprodução assistida implantado no Brasil, em 1992. Desde então, funciona sem interrupção atendendo toda a demanda do interior do estado de São Paulo.
Referência em tratamentos na área, o Serviço está equipado com tecnologia de última geração, fruto de investimentos do orçamento do próprio HCFMRP ou de projetos do grupo de pesquisadores do serviço. “Nunca houve um investimento específico do Sistema Único de Saúde (SUS) para o financiamento desse tipo de atendimento”, lembra o professor.
Falta de reconhecimento do SUS
Ferriani explica que somente que aqueles trabalham com as mulheres com problemas de engravidar entendem suas angústias, o que significa falta de saúde, pensando em saúde como bem estar geral. “Estudos mostram que o grau de ansiedade de um casal infértil, quando medido por escala, é semelhante ao de pacientes oncológicos. Por isso, a importância de se manter um serviço público nessa área”. Ele lembra, também, que a própria Constituição Federal garante como dever do Estado prover todos os meios de anticoncepção e de concepção e que, infelizmente, até hoje o SUS não reconheceu isso como obrigação.
Estudos mostram que o grau de ansiedade de um casal infértil, quando medido por escala, é semelhante ao de pacientes oncológicos.
No HCFMRP, esses casais recebem atendimento personalizado. Enfermeiros, psicólogos e médicos trabalham juntos, realizando assistência multidisciplinar. “Ao longo dos anos, investimos sempre na humanização, pois consideramos os casais atendidos como merecedores destes direitos”, garante o coordenador.
Novas técnicas à disposição
O primeiro bebê de proveta foi Louise Brown, que nasceu em 1978 na Inglaterra, e desde então as técnicas vêm evoluindo. O maior passo foi dado com a ICSI (Intracytoplasmicsperminjection), que consiste na microinjeção de espermatozóides dentro do óvulo, possibilitando o tratamento de um maior número de casais, incluindo os casos de comprometimentos masculinos.
Mais recentemente, um grande avanço foi obtido com o congelamento pelo método de vitrificação, que permite congelar óvulos e embriões com bons resultados. Isso criou uma nova demanda, a chamada “preservação de fertilidade”, que é direcionada a homens e mulheres que passam por quimioterapia ou radioterapia e, depois de curados, desejam ser pais. Com o congelamento de seus gametas feito antes de sofrerem os procedimentos quimioterápicos ou cirúrgicos, podem utilizá-los em um momento posterior à doença.
Outra demanda bem atual, assegura o especialista, refere-se a mulheres que deixam para ter filhos mais tarde e, pelo envelhecimento dos óvulos, podem apresentar dificuldades para engravidar. “Muitas delas nos procuram querendo preservar seus óvulos quando são mais jovens”, comenta
As técnicas atuais permitem ainda reprodução assistida aos casais soro discordantes – quando apenas um dos parceiros tem uma doença infectocontagiosa (com HIV e hepatite C). Se apenas o homem ou a mulher tiver este tipo de doença, não é recomendado que o casal engravide normalmente, devido ao risco de transmissão do vírus em relações sexuais sem proteção. É possível, no entanto, engravidar por meio da reprodução assistida. O programa permite aos casais reduzirem ao máximo a chance de transmissão vertical ou mesmo a ocorrência de infecção entre os parceiros, orientando os casais sobre os riscos.
Futuro
A equipe do HCFMRP envida todos os esforços na ampliação do serviço, pois a demanda é cada vez maior. Segundo Ferriani, felizmente, com essas novas técnicas, mais pacientes receberão benefícios. “Pessoas que antes tinham um câncer e sabiam que iam morrer, hoje têm grandes chances de sobrevida e podem inclusive sonhar em ter filhos após finalizarem seu tratamento oncológico. O atendimento de maior volume dos casais soro discordantes também é uma meta da equipe”.
As esperanças para 2013 são muitas e, “felizmente, o ano teve um bom começo”. Isso porque o Ministério da Saúde acaba de conceder R$ 1,5 milhão para ajudar na assistência do programa. Esta é a primeira verba específica do Ministério que recebem. Com o novo recurso, o grupo almeja ampliar o atendimento. A esperança é de que o SUS passe a remunerar o serviço por procedimento realizado, e que possa ser ampliado o atendimento, “precário no momento em virtude de demanda tão expressiva”.
Mais informações: site www.fmrp.usp.br/rgo