Corrupção é analisada em pesquisa do IP e vira livro na Alemanha

Projeto do Instituto de Psicologia da USP questionou o que leva as pessoas a se corromperem e não considerarem os preceitos éticos.

Fernando Pivetti / Agência USP de Notícias

Um projeto desenvolvido no Instituto de Psicologia (IP) da USP analisou os aspectos psicológicos da corrupção e a observância da ética e seus reflexos no trabalho no serviço público. O estudo foi publicado em livro pela Lambert Academic Publishing, da Alemanha, sob o título “The ethical Behavior in Public Administration : study accomplished with managers of public administration of São Paulo”.

A tese de doutorado da psicóloga Nanci Gomes observou dois aspectos que afetam a corrupção e a ética presentes nas instituições. O primeiro deles é o papel decisivo da forma como são estruturados o funcionamento e os aspectos da racionalidade na administração pública na ética exercida pelos funcionários e pelos outros agentes que lá trabalham. O segundo ponto constatou que a constituição da moral individual é um fator fundamental na resistência ou facilitação à corrupção.

Durante as análises, Nanci procurou questionar o que leva as pessoas a se corromperem e não considerarem os preceitos éticos. “Com as respostas, poderíamos visualizar aspectos originários dessas condutas”, conta a pesquisadora. “Quem sabe, poder levantar possibilidades de atuar nesses aspectos ou identificar componentes que devam ser preservados e que favoreçam os comportamentos éticos”, ressalta.

A pesquisa buscou indicar algumas ações e propostas na tentativa de viabilizar o favorecimento da ética no trabalho público e na sociedade. “Procuramos refletir sobre fatores internos e externos às pessoas que ocupam cargos de gestão ou assessoria que os levam a ter determinadas condutas morais como agentes públicos e agentes políticos nas repartições públicas brasileiras”, conta a psicóloga.

Para o levantamento dos dados, foram entrevistados gestores, servidores ocupantes de cargos comissionados e assessores no Governo do Estado de São Paulo. O participantes respondiam um questionário com 33 questões abertas, formuladas previamente. “O questionário visou valorizar os dados qualitativos e análise de conteúdo, apreciando atitudes e posturas dos sujeitos participantes do estudo, portanto, questões abertas foram respondidas pessoalmente a mim como entrevistadora”, descreve Nanci.

Na elaboração das perguntas foram considerados a ética e os princípios observados em trabalhos com seres humanos, garantindo a autonomia, beneficência, não maleficência, justiça e equidade aos participantes. “A intenção foi atingir aspectos relativos à moralidade que efetivam maneiras de agir e de pensar nos profissionais que ocupam cargos de confiança política do governo na administração pública. As questões buscavam opiniões, sentimentos, valores e motivações que determinam ou sustentam algumas atitudes pautadas num senso ético ou na ausência dele, em especial no exercício da função de gestor que possa se estender ao exercício da função de servidor público”.

Combate à corrupção

O estudo instigou a busca por propostas de ações para contribuir com o fortalecimento da ética e o combate à corrupção. Nanci ressalta a importância da psicologia voltada para as questões sociais e o contexto do trabalho na administração na contribuição da formação de pessoas capazes de fortalecer o individuo ético e dar um rumo diferente ao imposto até agora. “Apesar de constatar essa importância, é válido destacar o quanto difícil e desafiador é colocar em prática tal intuito. Há forças que jogam com a permanência dessa realidade corruptora. Legal, mas imoral”, completa.

Outro ponto enfocado no estudo é a discussão sobre a possibilidade de ampliação da consciência crítica das pessoas que compõem essa realidade. “Dessa forma, pode-se incentivar a resistência à esse modo de funcionamento prejudicial do serviço público estabelecendo outros atributos morais. A proposta é investir na formação dos trabalhadores públicos para ampliar essa consciência critica”.

Para a pesquisadora, a saída educacional deve seguir outra direção que não a de acúmulo de informações e capacitações técnicas. “Esse processo deve ser educacional e promover a crítica permanente”, recomenda.

A psicóloga também observa a necessidade da implementação de ações educacionais formativas no contexto do trabalho nas repartições públicas. Essas ações buscariam alterações de aspectos da realidade e assim da consciência e da moralidade exercida.

Mais informações: email nanpsi@gmail.com, com Nanci Gomes

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