FMRP ajudará no combate à desnutrição infantil em Angola

Parceria entre médica angolana e Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP visa criar programas de combate à desnutrição infantil em Angola.

Marcelo Pellegrini / Agência USP

No começo dos anos 2000, diversas indústrias nacionais e internacionais de bebidas se instalaram na Comuna de Bom Jesus, que pertence à província angolana de Luanda. Com o intuito de transformar os investimentos financeiros dessas indústrias em desenvolvimento social para a Comuna, iniciou-se uma parceria de pesquisa entre a médica angolana Ema Cândida Branco Fernandes e a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

Na primeira fase da parceria, durante os meses de maio a agosto de 2010, foram coletadas as variáveis demográficas, socioeconômicas, de alimentação , morbidade e nutricionais de crianças menores de cinco anos, que vivem na Comuna. Estes dados fazem parte da dissertação de mestrado de Ema, pela FMRP, e irão se transformar em programas sanitários para o combate à desnutrição nesta localidade de Angola.

Os resultados da dissertação de mestrado de Ema, pela FMRP, revela que das 744 crianças observadas, 22% tinham déficit de estatura em relação a idade, sendo que 7% possuíam um déficit grave. Além disso, 13% das crianças tinham déficit de peso para a idade.

De acordo com Ema, estes dados podem estar relacionados com as condições de infraestrutura da região, com a escolaridade e a renda dos pais. “A área da Comuna não possui coleta de lixo e cerca de 60% dos domicílios da região são construídos com material inapropriado, sendo que 48% deles possuíam piso de terra”, revela a médica. “As famílias também apresentam problemas de sanitários. Das 498 famílias entrevistadas, 73% não possuíam vaso sanitário ou esgoto, 60% não tinha acesso a água apropriada e 37% não possuíam energia elétrica, fundamental para armazenar alimentos”, exemplifica.

A pesquisa também mostrou que a prevalência do déficit nutricional segundo o peso e idade foi maior em famílias que não possuíam eletricidade e nem abastecimento de água.

Projetos sociais

“Nosso intuito é apresentar estes dados às indústrias que se instalaram na região e mostrar como elas podem fomentar projetos para reverter esse quadro de desnutrição infantil”, idealiza a médica.

Segundo ela , a primeira fase da parceria com a USP, que era voltada para a coleta de dados de saúde, de infraestrutura e de renda das famílias, já foi concluída no mestrado. “Agora na segunda fase, que é o doutorado, vamos analisar estes dados para identificar os determinantes da desnutrição infantil. Com os resultados podemos propor o desenvolvimento de projetos, de curto e médio prazo, de assistência a saúde, e a longo prazo projetos que possam melhorar as condições de vida destes moradores”, avalia.

Embora a segunda fase ainda não tenha começado, Ema adianta que os programas seguirão padrões estipulados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), e que dependerão diretamente dos fatores que contribuem para o quadro da Comuna de Bom Jesus.

Em tese, o primeiro projeto a ser implementado seria relacionado à ‘busca ativa’. “Em um primeiro momento, identificaremos as crianças em risco de desnutrição, para intervirmos rápido evitando a morte e/ou o desenvolvimento deficiente delas”, diz Ema. “Em uma segunda etapa, serão os dados de moradia, acesso à água tratada, saneamento básico e escolaridade, principalmente das mães, pois são elas que mais tempo dedicam nos cuidados das crianças”.

As pesquisas e as estratégias para a diminuição da prevalência da desnutrição infantil desenvolvidas na Comuna de Bom Jesus podem ser reutilizadas em diversas outras localidades de Angola, segundo a pesquisadora. “As características rurais da Comuna de Bom Jesus são as características predominantes em Angola, o que facilita a aplicação do método e das estratégias”, ressalta.

Os contatos com as indústrias para fomentar os projetos e programas ainda não se iniciaram e dependem da conclusão da segunda fase da pesquisa. A estimativa é que os programas comecem a ser implementados em três anos.

O processo de pesquisa está sendo financiado pela Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto de Angola e pela Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola.

 

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