Segundo dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), em 2013, o Brasil esteve entre os países que mais enviaram turistas para o mundo. O órgão contabilizou, no primeiro semestre, uma alta de 15% de pessoas que fizeram viagens ao exterior. Buscando orientá-las sobre cuidados de saúde e evitar imprevistos nas viagens, o Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP prepara, já há alguns anos, o curso Saúde em Viagens: Antes, Durante e Depois.
As aulas abordam, entre outros temas que envolvem uma viagem segura, as vacinas recomendadas para cada destino e também os cuidados básicos com a alimentação durante os passeios. Gratuito, o curso conta com a participação de diversos professores do IMT, que têm tradição no estudo de doenças “importadas”, além de terem um olhar voltado para a saúde internacional.
“O curso tem como vocação a criação de habilidades”, conta Heitor Franco de Andrade Jr. professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e um dos organizadores do Saúde em Viagens. O médico explica também que a estrutura do curso busca sempre trazer exemplos e propostas de simulação de viagens ao final de cada uma das aulas, para “formar um conceito de segurança e saúde em viagens” de uma forma mais prática.
Foco na prevenção
Atualmente em sua 12ª edição, o curso já passou por diversas modificações, inclusive em seu tempo de duração. Hoje, ele está formatado com duração de três dias e conta com diversas atividades e aulas. Heitor lembra que foi a partir deste curso livre que foi proposta a criação de uma disciplina voltada ao tema das viagens a partir do ponto de vista da saúde na graduação em Turismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP .
“Em breve nós teremos mais de um bilhão de pessoas com bilhete aéreo”, prevê o especialista, e é por isso que Saúde em Viagens colabora com a construção de uma consciência para o viajante. Quando aborda as doenças aos quais os turistas estão vulneráveis, Heitor afirma que o curso se dispõe mais à identificação das formas de transmissão do que propriamente com seus mecanismos de ataque. Isso porque, em uma visão mais prática, é importante para o turista saber o que deve evitar durante as viagens – afinal, ninguém quer ficar doente nas férias.
Quanto mais próximo está o cientista da comunidade, mais sensatos estamos em nossas pesquisas
As aulas abordam desde doenças transmitidas a partir de vetores, como a malária; pelas vias respiratórias, como influenza e até mesmo doenças sexualmente transmissíveis, comuns em destinos turísticos “de prazer”, como define o especialista. Durante o curso, a professora Luciana Regina Ekman, também do IMT, fala sobre doenças que podem ser transmitidas por água e alimentos – e garante que são várias. Luciana conta também que procura desenvolver sua aula no curso como está acostumada a trabalhar com os alunos de Turismo da ECA, a partir da separação de doenças em dois grandes grupos: os de contaminação extrínseca (manipulação sem a higienização apropriada) e de contaminação intrínseca (como carnes mal assadas ou cruas que têm a presença de parasitas).
“Procuro exemplificar os problemas a partir de surtos que se passaram, como foi o caso do pepino espanhol”, disse, referindo-se ao problema que a Alemanha enfrentou em 2011 com o alimento. Na ocasião, os alemães culparam o país que exportava pepino para a região pelo surto de bactéria. No entanto, foi descoberto, posteriormente, que se tratava da contaminação dos brotos de feijão da própria Alemanha.
Luciana explica que, por ser um curso que conta com uma turma heterogênea, ela opta por focar na questão da prevenção.
Saúde em Viagens: Antes, Durante e Depois faz parte de uma série de atividades de extensão voltadas para a comunidade externa à USP. Heitor reconhece que é muito difícil para um instituto como o IMT, voltado mais à pesquisa, ter contato direto com a população, mas garante que “quanto mais próximo está o cientista da comunidade, mais sensatos estamos em nossas pesquisas”. A proposta, explica, visa justamente aumentar o contato entre a academia e as pessoas, e entre as pessoas em si, por isso, as atividades têm sempre muita interação.
Viajantes
Aberto a todos os públicos, e com interesse especial em pessoas da terceira idade, o curso tem uma plateia diversa, mas há três tipos de alunos que se destacam, conta o professor Heitor Franco de Andrade Jr. Além dos idosos que desejam garantir maior segurança em suas futuras viagens, têm destaque os profissionais e estudantes da área de saúde, que buscam construir uma visão atualizada dos eventos – afinal, o curso se renova a cada edição, trazendo o que há de mais recente em cada área abordada -, além de viajantes e aventureiros, que buscam com frequência essa oportunidade de interação com outros turistas para o compartilhamento de experiências nas viagens.
Atividade regular do Serviço de Cultura e Extensão Universitária, o curso acontece duas vezes ao ano. A próxima edição, do segundo semestre, não tem data marcada, mas acontece geralmente entre os meses de outubro e novembro.