Livro resgata ideias econômicas de Roberto Simonsen

Empresário, historiador e economista defendia planejamento e incentivo à industrialização pelo Estado

O pensamento do empresário, historiador e economista Roberto Simonsen (1889-1948) sobre a economia brasileira é resgatado em pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que será lançada em livro no próximo dia 26 de fevereiro. Defensor do planejamento e incentivo à industrialização pelo Estado, Simonsen envolveu-se em uma controvérsia dentro do governo de Getúlio Vargas (1930-1945) com o economista Eugênio Gudin, partidário do livre mercado e do apoio à agricultura. A discussão levantada por Simonsen a respeito das alternativas para o desenvolvimento econômico do Brasil, abordada no estudo, permanece até os dias de hoje. A dissertação de mestrado do professor Luiz Felipe Bruzzi Curi, hoje doutorando, foi orientado pelo professor Alexandre Saes.

Simonsen atuou no comércio de exportação e importação no porto de Santos e também no setor da construção. “Sua empresa realizou obras como o prédio da Bolsa Oficial do Café, em Santos, e a construção de quartéis para o Exército”, diz Bruzzi. Em 1928, credencia-se como líder da classe industrial ao participar da fundação do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). “O Ciesp surge de uma dissidência da Associação Comercial de São Paulo, motivada por divergências políticas e econômicas, como na questão do câmbio. Simonsen também teria atuação política, como deputado constituinte em 1934 e senador, entre 1947 e 1948”.

As ideias econômicas de Simonsen se desenvolvem entre as décadas de 1920 e 1940, período em que a industrialização no Brasil ganha força e intensidade. “Avanços nas indústrias de transformação, como a têxtil e a metalúrgica, levaram gradativamente a uma defesa radical da industrialização para aumentar a diversidade produtiva e reduzir a dependência das receitas da produção de café”, observa o pesquisador. “Simonsen integra um movimento de tomada de consciência entre os industriais, que leva a produção de um pensamento econômico que sustentasse no plano teórico a defesa do desenvolvimento industrial”.

Em 1937, Simonsen lança o livro “História Econômica do Brasil”. Também atuou como professor na Escola Livre de Sociologia e Política, em São Paulo. De acordo com Bruzzi, o pensamento econômico de Simonsen se estruturava em dois eixos. “O primeiro deles era o protecionismo, a ideia de que para se industrializar o Brasil era preciso proteger a indústria nascente por meio de tarifas alfandegárias sobre produtos importados, ou seja, da proteção aduaneira”, diz. “O segundo era a crença de que o livre mercado não iria possibilitar o desenvolvimento industrial do País. Dessa forma, era necessário que o setor público planejasse e incentivasse a industrialização”.

Controvérsia do Planejamento

No final da década de 1930, Simonsen começou a atuar na burocracia federal do governo de Getúlio Vargas por meio da participação no Conselho Federal de Comércio Exterior, primeiro, e depois no Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial. “Dentro desse órgão, ele formulou uma proposta para a organização da política industrial do Brasil”, relata o pesquisador. “A proposta de criação da Junta Central de Planificação Econômica é feita em um parecer de 1944, que seria analisado pelo economista Eugênio Gudin, integrante de outro órgão do governo, a Comissão de Planejamento Econômico”.

Gudin formula uma opinião contrária ao parecer. “O economista entendia que o Estado, ao invés de criar uma junta de planificação, deveria fomentar o setor agrícola, que considerava o mais produtivo da economia brasileira”, afirma Bruzzi. Planejar a industrialização, sob esse ponto de vista seria equivocado. “Gudin fazia parte de uma escola de pensamento econômico ligada à ideia de que o livre mercado aloca melhor os recursos da economia, permitindo que os setores produtivos possam se desenvolver”. A resposta de Gudin geraria uma réplica de Simonsen, insistindo na criação de um órgão central de planejamento industrial, que é rebatida pelo economista, adepto do livre mercado.

O episódio ficaria conhecido como “controvérsia do planejamento”. “O pedido não seria atendido, dentro da lógica varguista de negociar para resolver pendências ideológicas e políticas dentro do governo federal”, observa o pesquisador. “Mas as ideias de Simonsen repercutiriam ao longo da história, como no caso das propostas para incentivar a industrialização no Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, entre 1956 e 1961. Houve momentos em que se caminhou na direção contrária, por exemplo, com as políticas liberais da década de 1990. Hoje, o debate continua, pois não há consenso entre os economistas sobre o modelo de desenvolvimento a ser seguido pelo Brasil”.

A pesquisa deu origem ao livro “Entre a história e a economia: o pensamento econômico de Roberto Simonsen”, publicado pela editora Alameda. A obra será lançada na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) dia 26 de fevereiro, na sala Delfim Netto, às 14 horas. O endereço é Av. Prof. Luciano Gualberto, 908, Cidade Universitária, São Paulo. O estudo e a publicação do livro tiveram apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Júlio Bernardes / Agência USP de Notícias

Mais informações: email luizfelipelfbc@gmail.com, com Luiz Felipe Bruzzi Curi

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