João Ortega / Agência USP de Notícias
A partir da análise urbanística da cidade de São Paulo em relação a população de rua que nela habita, a urbanista Paula Rochlitz Quintão constatou que nem todo morador de rua quer ou consegue sair desta condição e ter uma casa como seu lar. Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, Paula realizou um estudo em que propõe a inclusão de pessoas que estão nas ruas transitoriamente e as que habitam as vias permanentemente em projetos urbanos.
“Para as que desejam sair das ruas, é necessário oferecer meios para a inserção delas em uma vida ativa na sociedade. Para as que permanecerão, é necessário sua aceitação e inclusão no espaço urbano”, recomenda a pesquisadora, ressaltando que “o caminho de quem não quer sair da rua nunca é pensado”. Segundo Paula, as políticas públicas, em geral, voltam-se mais à remoção das pessoas do espaço público. Ela lembra que, entre 2000 e 2009, a população de rua em São Paulo cresceu 57%, atingindo aproximadamente 14 mil pessoas. No Brasil, o contingente está em por volta de 50 mil.
Para as que desejam sair das ruas, é necessário oferecer meios para a inserção delas em uma vida ativa na sociedade. Para as que permanecerão, é necessário sua aceitação e inclusão no espaço urbano. “O caminho de quem não quer sair da rua nunca é pensado”, conta Paula. No estudo Morar na rua: há projeto possível?, que teve a orientação do professor Carlos Roberto Zibel Costa, Paula procurou levantar reflexões sobre a situação, sem visar uma solução única, visto que a questão pode ter diferentes faces, dependendo do lugar e das características da população.
Equipamentos
Entre as diretrizes propostas, está a criação de equipamentos que ajudem tanto aqueles moradores transitórios quanto os crônicos. Eles vão desde chuveiros, banheiros e locais para fazer a documentação até locais de pernoite. Assim, o morador de rua que desejasse poderia ter condições básicas para procurar empregos e tornar-se mais ativo na sociedade.
“Os equipamentos devem ser bem localizados e não precisam ser fixos”, afirma a urbanista. Dessa maneira, seriam aptos a suprir as necessidades dos moradores, que se deslocam por algumas regiões. Segundo o estudo, os moradores de rua permanecem em locais com grande fluxo de pessoas, comércio e materiais, como na região central e próximo à Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). E não é à toa: 62% da população de rua são catadores de resíduos diversos.
Entretanto, os equipamentos são algumas sugestões dentro de uma gama de possibilidades para auxiliar a população de rua a se inserir socialmente. A pesquisadora indica como uma delas, por exemplo, a preocupação obrigatória dos urbanistas no planejamento urbano com os moradores de rua, visto que eles fazem parte do espaço urbano.
Urbanismo
Para Paula, os urbanistas pouco entraram na questão do “morar na rua”. Enquanto profissionais da saúde e psicólogos, entre outros, tentam auxiliar os moradores por intermédio da assistência social, o arquiteto deveria ser responsável pela criação de projetos importantes para essa população. “O arquiteto tem que estudar, conhecer e respeitar seus clientes. Os projetos da prefeitura têm sido equivocados nesse sentido”, afirma a pesquisadora.
Existem albergues fora dos principais locais onde os moradores de rua são encontrados e, segundo a urbanista, “é um equívoco achar que eles vão se deslocar vários quilômetros, com todos seus pertences para chegar nesses dormitórios.” Devem ser analisados os dados existentes, tanto do Censo de população de rua, quanto os mapas de uso do solo, para entender os “espaços preferenciais” — onde se localizam estas pessoas. Na pesquisa, são propostas reflexões para aspectos tanto na escala macro da cidade quanto micro, do projeto de cada local.
Mais informações: (11) 98202-8404, email paularq@terra.com.br, com a pesquisadora Paula Rochlitz Quintão