João Ortega/Agência USP de Notícias
Projetos sociais têm como foco principal a inclusão social e o desenvolvimento da cidadania de seus participantes. Os que são voltados ao esporte não podem ser diferentes. Em pesquisa realizada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, verificou-se que, dependendo da metodologia e das prioridades de projetos sociais esportivos, os participantes podem sofrer resultados positivos ou negativos.
Crianças que participaram por um ano do Projeto Esporte Talento (PET), desenvolvido no Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp), foram comparadas a crianças de escolas públicas que não participam de projetos sociais esportivos e crianças que participam de outros projetos sociais. O professor de educação física Elder Regis Deorato Marques, autor da pesquisa, analisou o autoconceito dos participantes, isto é, a forma como a pessoa se vê sob diversos aspectos. Os resultados indicaram que o autoconceito global do grupo participante do PET melhorou ao longo do período de um ano; o do grupo que não participou manteve-se similar; já o grupo das crianças que participaram de outros projetos sociais piorou no decorrer da pesquisa.
O estudo foi desenvolvido em sua dissertação de mestrado, defendida em março de 2012, com a orientação do professor Antonio Carlos Simões, que coordena o Laboratório de Psicossociologia do Esporte da EEFE. Suas conclusões apontam para a importância de estudar a metodologia correta acerca do esporte com crianças e de escolher corretamente as prioridades do projeto. “O esporte pode contribuir para a melhoria do autoconceito da pessoa, não apenas em relação à dimensão motora, mas também em outros aspectos do desenvolvimento humano”, explica Marques. O PET tem uma proposta pedagógica que fez com que os participantes da pesquisa pudessem apresentar melhoria não apenas do autoconceito global, mas também nas dimensões intelectual e social.
Inclusão ou exclusão
“Um projeto social esportivo não deve ter como único foco a dimensão motora, pois o objetivo não é a formação de atletas. A prioridade destas instituições deve ser a formação social de seus participantes”, afirma o professor. A preocupação em formar atletas levariam à exclusão daqueles que não chegassem a esse objetivo.
A percepção de competência é um dos fatores determinantes que levam à motivação para a prática esportiva, bem como à sua desistência. Na pesquisa, Marques mostra como a percepção de competência deve ser considerada no desenvolvimento de um programa esportivo, para evitar a desmobilização em relação ao esporte.
A percepção da competência negativa em um esporte leva à desmotivação e, muitas vezes, à desistência. Do outro lado, a competência positiva traz motivação para a prática esportiva.
Incentivos
Desde a década de 1990, observa-se o aumento da quantidade de projetos sociais esportivos. A Lei de Incentivo ao Esporte, criada pelo governo federal em 2006, é um mecanismo legal que tende a facilitar a criação e manutenção destas instituições, por meio de incentivos para empresas que financiarem esses projetos.
Contudo, segundo Marques, é necessário uma postura crítica sobre estas parcerias entre o Estado, a iniciativa privada e o terceiro setor. O direito ao esporte é constitucional, e deve-se analisar se ele está sendo realmente garantido por meio destas ações. Projetos sociais esportivos têm sua importância, mas não podem ser a única alternativa de práticas esportivas para a população.
Mais informações: (11) 99358-9147