Requalificação urbana deve começar por bairros, aponta pesquisa da FAU

Estudo prevê ações locais em regiões carentes para melhorar espaços urbanos e transporte público das cidades.

Hérika Dias / Agência USP de Notícias

A região mais populosa da cidade de São Paulo, segundo o censo demográfico de 2010, é a zona leste, que abriga 4 milhões de pessoas. Isso representa cerca de 40% dos habitantes da cidade. E é justamente nessa área em que há os maiores problemas como falta de equipamentos sociais e infraestrutura urbana, segundo uma pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. Por isso, um distrito da região, Cidade Tiradentes, foi escolhido como exemplo real para se aplicar uma metodologia que pretende trazer qualidade ao dia a dia dos moradores: a adoção de Planos de Bairro para replanejar áreas carentes da cidade.

O projeto alia reestruturação dos espaços urbanos em escala local e melhor utilização do transporte público, de acordo com as demandas socioeconômicas das pessoas do bairro. Essas ações regionais ajudariam corrigir as distorções do crescimento urbano que existe em São Paulo.

Segundo a autora da tese de doutorado Planos Urbanos Locais: definição concreta para a mobilidade e qualidade ambiental urbanas, Maria Elizabet Paez Rodriguez, para que os resultados da aplicação dessa metodologia sejam positivos, um dos pontos centrais é o investimento público e incentivos a empresas, indústrias não poluentes e estabelecimentos comerciais de médio porte para se instalarem nas regiões carentes e gerarem mais postos de trabalho ao morador local. Isso para melhorar um dos maiores problemas de São Paulo, a mobilidade urbana, já que a maior parte da oferta de emprego está em áreas centrais da cidade e a maioria da população vive em regiões periféricas.

“Se o contingente de trabalhadores que se desloca diariamente por grandes distâncias para trabalhar ou estudar diminui, a superlotação do transporte público tende a cair também e outras pessoas podem aderir ao transporte público, diminuindo o número de automóveis nas vias de circulação de veículos. Passamos a um círculo virtuoso no qual todos ganham qualidade urbana e qualidade de vida com isso”, afirma Maria Elizabet.

A urbanista explica que o Plano de Bairro pode ser aplicado em qualquer parte de regiões metropolitanas do Brasil, mas no caso de São Paulo, o mais adequado é que se adotem primeiramente em regiões carentes. “O objetivo principal é devolver ou oferecer qualidade ambiental urbana, que envolve equipamentos públicos suficientes como escolas, postos de saúde, praças, parques, calçadas adequadas e acessibilidade, baixos níveis de poluição ambiental e ruas seguras que atraiam o morador para atividades ao ar livre opcionais e não somente para atividades obrigatórias, como sair à rua em direção ao trabalho ou à escola”.

Método

Na metodologia mencionada são levantados todos os índices socioeconômicos e urbanos do local a requalificar; em seguida, traça-se um perfil detalhado da população local, como faixa etária, ocupação e nível educacional. “Então, calculam-se as quantidades relativas a cada demanda, o que permite definir-se a dimensão real dessa reestruturação em relação ao adensamento populacional ou à redistribuição das populações residentes em áreas precárias para novas moradias e, ao número e tipo de equipamentos públicos necessários”, explica Maria Elizabet.

Em relação à mobilidade urbana, é feito estudo detalhado da capacidade de suporte do transporte público local e como ele é conectado ao regional. Segundo Maria Elizabet, “esse conhecimento permite que se distribuam novas moradias e equipamentos públicos, complementando esse sistema de transporte público e determinando a melhor localização dos pontos de embarque, a distâncias confortáveis para todos os moradores, que consideramos 500 metros a partir do local de moradia até o ponto de embarque em pelo menos um dos diferentes tipos de transporte urbano”.

A urbanista acredita que Planos de Bairro podem efetivamente eliminar ou diminuir as carências encontradas em regiões, como Cidade Tiradentes. “Os resultados esperados são a distribuição correta de serviços e equipamentos públicos no espaço urbano, qualidade ambiental urbana e uma oferta mais consistente de postos de trabalho próximos às moradias dos trabalhadores, o que é o mote atual nos discursos dos administradores públicos: levar empregos onde vivem os trabalhadores. Não é um movimento que apresente resultados em um ano, mas sim em 5,10 e até 15 anos e, é inadiável”.

Sobre as perspectivas de implantação de Planos de Bairros na cidade de São Paulo, Maria Elizabet informa que no Plano Diretor Estratégico para o Município de São Paulo 2002/2012, que se encontra em fase de revisão, no artigo 269, previa-se a adoção de planos de bairro com a participação das comunidades locais.

“Estão previstos também no Estatuto da Cidade – Lei 10.257 de 10/07/2001, artigo 2º, que determina a correção das distorções do crescimento urbano e a oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais. Somente um plano local foi realizado até o momento, o Plano de Bairro de Perus, cujo projeto urbanístico completo é de autoria do arquiteto e urbanista professor da FAU Candido Malta Campos Filho, mas ainda não foi implantado”.

Mais informações: email epaez@usp.br, com Maria Elizabet Paez Rodriguez

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