USP recebe prefeito de São Paulo em debate sobre espaço e política

Evento marcou lançamento da quarta edição da Revista Contraste, publicação estudantil independente que conta com a colaboração de Fernando Haddad

Evento marcou lançamento da quarta edição da Revista Contraste, publicação estudantil independente que conta com a colaboração de Fernando Haddad

As cidades, além de um ambiente caótico constituído por um número crescente de pessoas, também podem ser entendidas como um fenômeno político e cultural. Buscando desenvolver esse tema, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP organizou na quarta-feira, dia 9 de março, uma conversa sobre urbanismo e gestão pública com Fernando Haddad, prefeito de São Paulo e professor do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

O evento fez parte do ciclo de lançamento da quarta edição da Revista Contraste, publicação estudantil independente surgida na FAU que visa promover a discussão coletiva dentro da universidade. Com a escolha da temática do novo número, “Espaço Urbano”, surgiu a ideia de fazer o convite a Haddad não apenas como entrevistado, mas também para a realização de um evento aos moldes dos AUH Encontros. “Seja pelo convidado ou pelo tema proposto, também decidimos por um horário que possibilitasse a participação da comunidade USP e dos interessados em geral”, explica Nilce Aravecchia, professora do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto (AUH).

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

O prefeito iniciou o debate lembrando o nascimento das cidades como um centro de contestação radiador de cultura. Por conta deste e de alguns outros fatores, ele afirma ser necessário vê-la como mais do que um local onde se presta serviço e comercializa bens – é preciso também estar atento à construção constante de uma agenda que, apesar ser edificada a partir de novos fenômenos (como a preocupação mais recente com questões ambientais), dialoga com o funcionamento das cidades nos antigos moldes capitalistas.

Destaca, ainda, que um dos grandes desafios para o desenvolvimento de uma administração pública de caráter progressista está em conciliar suas decisões com a iniciativa privada. Para ele, o setor privado é robusto e possui grande influência nos meios de comunicação: “ele dá a última palavra em quase tudo”. Em detrimento dessa questão, Haddad alega que resta ao poder público encontrar formas de atender à demanda desses setores, sem deixar de exigir contrapartidas urbanísticas aptas a mitigar os efeitos negativos da produção capitalista na cidade.

Partindo do princípio de que cabe às governanças locais oferecer as condições necessárias para que população possa ocupar os espaços existentes e se desenvolver socialmente, as perguntas feitas pelos estudantes presentes giraram em torno de pautas como o aumento da tarifa dos transportes, o Plano Diretor, estratégias de realocação dos moradores de regiões periféricas e os efeitos da estagnação do programa Minha Casa, Minha Vida.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Durante a apresentação para todos aqueles que lotaram o Salão Caramelo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, também foi questionada a atuação da prefeitura perante os alagamentos na zona leste da cidade. Nesse sentido, Haddad reforçou a importância da parceria entre governos estadual e municipal para que se a obtenha a solução de alguns problemas, já que muitos deles se manifestam, inicialmente, nas regiões metropolitanas, como é o caso do córrego Pirajussara.

Apesar dos temas delicados tratados, o professor demonstrou otimismo em relação ao desenvolvimento da cidade de São Paulo diante do mau período político e econômico atravessado pelo país. “Não posso deixar de registrar que São Paulo está na contramão do que está acontecendo. Nós estamos alargando nossas possibilidades de investimento em função da repactuação com uma legislação urbanística, e, na minha opinião, isso é muito favorável para a busca do equilíbrio da cidade”, conclui.

De acordo com Nilce Aravecchia, a discussão foi promovida não apenas para ser uma oportunidade de se pensar o lugar da Arquitetura na administração pública, como também para refletir o papel da universidade na formação de cidadãos. “Nossa intenção tem sido contribuir para a construção de um espírito crítico dos alunos para que eles, enquanto profissionais, possam responder e analisar, de forma ampla, as respostas demandadas pela sociedade a partir de uma perspectiva crítica-teórica”, afirma ela.

Lançamento

Os eventos da semana de lançamento da Revista têm continuidade no dia 11 de março, às 17h30, quando será realizada uma roda de conversa com Paula Santoro, Laura Sobral (Instituto A Cidade Precisa de Você) e Benjamin Seroussi (Vila Itororó) sobre o tema “Espaço e Gestão – Coletivo e Privado”. Já no dia 13, trazendo o tema “Espaço e Apropriação”, acontece uma saída fotográfica no Anhangabaú, a qual terá as fotografias expostas na Avenida Paulista no dia 20 de março, domingo. Mais informações sobre a programação podem ser acessadas na página do evento.

AUH Encontros

O AUH Encontros é uma atividade de extensão universitária desenvolvida pelo Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da FAU. Comumente realizado às quartas-feiras, no intervalo do almoço, o projeto consiste em palestras e debates sobre os mais diversos temas associados à cultura contemporânea.

Mais informações: email contraste.edit@gmail.com

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