Fernando Pivetti/Agência USP de Notícias
Apesar da grande divulgação do uso de programas de computadores no design de automóveis, o modelo físico ainda é imprescindível para a indústria automobilística. É o que mostra uma pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, que desmistifica a ideia de que os desenhos manuais e as reproduções em miniaturas não possuem mais espaço no desenvolvimento dos modelos.
A dissertação de mestrado do arquiteto Silvio Kimura voltou-se para a análise das diversas metodologias de projeto utilizadas nas montadoras de automóvel. “A descrição das ferramentas utilizadas no processo de projeto permitiria ainda analisar qual seria a formação necessária para os futuros designers”. O estudo teve a orientação do professor Alessandro Ventura.
A ideia do projeto de pesquisa partiu de uma experiência profissional do arquiteto na conceituação e implantação de métodos de trabalho em sistemas CAD (Computer Aided Design, ou desenho assistido por computador) em escritórios de design e de engenharia, muitos deles ligados à área automotiva. “A intenção inicial era de investigar se o designer de automóveis tem sua capacidade criativa limitada pelas suas ferramentas de CAD.”
Por meio de entrevistas e conversas particulares com designers e engenheiros de grandes empresas automotivas, como General Motors, PSA e Volkswagen, Kimura esboçou um panorama do fluxo de trabalho do designer e as ferramentas com que ele interage para desenvolver os aspectos estéticos de um novo veículo. No processo, o pesquisador acompanhou o cotidiano de criação de novos modelos de montadoras entre os anos de 2010 e 2012.
Descrevendo duas frentes – a dos estúdios de design e das ferramentas de AutoCAD -, o arquiteto observou que o uso de modelos tridimensionais físicos, criados com o chamado “clay”, prática introduzida nos anos 1920 na indústria automotiva, emprestada das artes plásticas, permanece muito estabelecido no cotidiano das montadoras. “O clay é um modelo de estudo ou de apresentação construído com um material bastante plástico e moldável que permite alterar a forma com facilidade para representar as formas definidas pelo designer através de sketches [desenhos à mão-livre].”
Segundo Kimura, a realidade virtual ainda não é capaz de substituir a avaliação formal de um modelo real, sendo esse o motivo pelo qual os estúdios sempre constroem um modelo final em clay para aprovação da forma. “Existe uma adaptação e incorporação de novas ferramentas que, mesmo sendo digitais, persistem na exigência de habilidades manuais para produzir modelos digitais, 2D ou 3D, com qualidade”, diz. Para ele, conhecer o processo tradicional permite entender “causas e efeitos” das ferramentas virtuais e a razão de suas limitações ou parâmetros.
Novas tecnologias
O pesquisador ressalta que as ferramentas utilizadas pelo designer possuem muitos “vícios” provenientes do seu desenvolvimento, pois são adaptações das ferramentas de engenharia. “O uso dessas ferramentas pode limitar as possibilidades de criação livre por conta de sua forma de trabalho.”
Kimura acredita que, no futuro, as diversas pesquisas que vêm sendo desenvolvidas no campo das chamadas interfaces “livres”, ligadas ao gesto, cheguem de fato ao mercado, liberando o designer para pensar com mais liberdade. “Outra alternativa seria a obtenção da mesma liberdade do traço sobre o papel utilizando o computador para criar ideias em três dimensões.”
Mais informações: email kimura.silvio@gmail.com