Pesquisadores apontam problemas na formação de jovens atletas no Brasil

As pesquisas do Lateca mostram que o apoio ao atletas jovens – a base para o desenvolvimento do esporte em qualquer país – é insuficiente e carece de organização e infraestrutura.

Thiago Minami, especial para a USP Online

Daqui a algumas semanas, quando as Olimpíadas de Londres chegarem ao final, os olhares do mundo esportivo se voltarão aos jogos do Rio de Janeiro pelos quatro anos seguintes. Um dos nossos grandes desafios até 2016 é consagrar-se como uma nação que valoriza o esporte como um todo, e não apenas o futebol.

Ainda estamos muito longe de chegar a esse ponto, acreditam os pesquisadores do Laboratório de Treinamento e Esportes para Crianças e Adolescentes (Lateca) da USP. As pesquisas do grupo mostram que o apoio ao atletas jovens – a base para o desenvolvimento do esporte em qualquer país – é insuficiente e carece de organização e infraestrutura.

“Antigamente, cabia aos clubes oferecer treinamento aos iniciantes. Hoje em dia, esse espaço está sumindo. Criou-se uma lacuna”, aponta a coordenadora Maria Tereza Silveira Böhme, professora da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP. As escolas tampouco dão conta de despertar nos alunos o interesse pelo treino esportivo. “A partir da década de 80, elas perderam a responsabilidade com a formação nesse campo”, avalia.

No Brasil, a motivação para ingressar no esporte vem na maior parte do incentivo de pais e professores. Nos Estados Unidos, o amor pela atividade ou e a vontade de demonstrar uma habilidade são as forças propulsoras.

Em outras palavras, a razão para praticar está dentro do próprio jovem. Além disso, segundo as pesquisas do Lateca, os brasileiros precisam trabalhar e ganhar seu sustento ao mesmo tempo em que treinam. A situação só muda quando eles se tornam profissionais de destaque.

“Antigamente, cabia aos clubes oferecer treinamento aos iniciantes. Hoje em dia, esse espaço está sumindo. Criou-se uma lacuna.” – Maria Tereza Silveira Böhme.

A falta de ações que democratizem a prática esportiva e de continuidade nos programas de incentivo prejudicam a performance internacional do país. Nos jogos de 2008, em Pequim, países com programas de formação bem estruturados, como China, Austrália e Alemanha, estão bem a frente do Brasil no quadro de medalhas. No 23º lugar, ficamos atrás mesmo de nações com poucos recursos para apoiar os atletas, como Jamaica, Quênia e Etiópia.

IDH do esporte

Verificar o número de medalhas nas olimpíadas não é, no entanto, o melhor modo de se avaliar as políticas esportivas que levam ao êxito em esportes de alto rendimento. Um consórcio formado por Holanda, Reino Unido e Bélgica está desenvolvendo um índice que ranqueará 17 países mundiais de acordo com uma série de critérios. Chamado de o SPLISS (do inglês Sports Policy Factors Leading to International  Sporting Success), o grupo leva em conta itens como as instalações físicas dos locais de treinamento e a pesquisa científica realizada na área esportiva.

No Brasil, o Lateca é o responsável por enviar questionários a atletas, treinadores e entidades esportivas para obter o resultado nacional. “É como se fosse um IDH do esporte”, compara Maria Tereza, em referência ao Índice de Desenvolvimento Humano usado para medir a qualidade de vida nas nações Foram convidadas todas as confederações de esportes olímpicos para participarem da pesquisa.

A primeira etapa da pesquisa já está concluída, com a análise da amostra. No total, 11 dirigentes, 83 técnicos e 449 atletas brasileiros de esporte de alto rendimento no ano de 2011 concordaram em participar do projeto O passo a seguinte, que deve ser encerrado em breve, é enviar o relatório dos resultados. Os dados também serão enviados para a Bélgica, onde serão comparados com os de outros países participantes da pesquisa internacional. Segundo a professora, se houver verbas suficientes, o acompanhamento deve se estender até 2016.

Ao que tudo indica, o Brasil tem poucas chances de conseguir grandes avanços até lá. “A consciência do governo em pensar a longo prazo ainda é pequena. Nada é feito com o devido planejamento; tentamos apenas apagar o fogo”, aponta Flavia da Cunha Bastos, professora da EEFE e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Gestão do Esporte, que faz parte do Lateca.

Desenvolvimento do talento

Atualmente o Lateca também pesquisa a formação de atletas e a identificação de talentos nas áreas de judô, maratona aquática, voleibol e práticas esportivas escolares. Também está desenvolvendo um instrumento para: avaliação e verificação das Capacidades coordenativas em adolescentes de 12 a 14 anos de idade.

O interesse pela faixa etária nasceu dos estudos da professora Maria Tereza na Alemanha. Ao retornar ao Brasil, ela interessou-se pela formação de talentos no esporte brasileiro. Esse tema de pesquisa está presente desde que fundou em 1998 o Grupo de Estudo e Pesquisa em Esporte e Treinamento Infanto-Juvenil (GEPETIJ), que deu origem ao Lateca em 2005 e tornou-se parte dele.

Os resultados das principais pesquisas concluídas pelo grupo estão listados na obra Esporte infantojuvenil: treinamento a longo prazo e talento esportivo (Phorte Editora, 2011). O livro, que conta com diversos artigos escritos por pesquisadores do Lateca, discute os meios e possibilidades para identificação de talentos pela aproximação entre pesquisa e prática profissional dentro das escolas, mostrando os benefícios para o desenvolvimento global do esporte no país.

Mais informações: http://citrus.uspnet.usp.br/lateca/web 

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