No final do ano passado, a Reitoria da USP baixou uma resolução que estabelecia as bases da política de acesso aberto que já vinha sendo praticada e estimulada na Universidade. Agora, uma das principais iniciativas nesse sentido acaba de se concretizar: o lançamento de um repositório que integra a produção intelectual da USP, da Unesp e da Unicamp: o Repositório da Produção Científica do CRUESP (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas).
Lançado no último domingo, dia 6 de outubro, durante a abertura da quarta Conferência Luso-Brasileira de Acesso Aberto (Confoa), o Repositório CRUESP vai disponibilizar gratuitamente tal conteúdo, que corresponde a aproximadamente 75% de toda a produção científica brasileira. “As pessoas poderão encontrar o que está sendo produzido e publicado pela comunidade das três universidades num único lugar, numa única interface, inclusive, com acesso ao texto completo”, anuncia a coordenadora do Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi) da USP, Sueli Mara Ferreira.
Os sistemas de bibliotecas das três universidades foram responsáveis pela coordenação do projeto, com o apoio dos pró-reitores de pesquisa e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), umas das principais incentivadoras da criação do repositório. “Como agência de fomento, a Fapesp quer ter um espaço onde estejam disponibilizados os trabalhos financiados com dinheiro público. Nossa proposta é que, a partir de agora, o país, os governos e as agências possam começar a gerar as políticas de acesso aberto que já existem nos outros países”, afirma Sueli.
Cada uma das universidades tem, hoje, seu próprio repositório (USP, Unesp e Unicamp), construídos a partir de uma metodologia comum. O Repositório CRUESP apresenta, assim, um metabuscador que percorre esses três repositórios institucionais para fazer as pesquisas. Outras universidades brasileiras já criaram essa ferramenta, mas trata-se da primeira iniciativa que integra mais de um repositório em uma mesma interface.
Menos restrições, mais produções
Segundo a coordenadora do SIBi, foram priorizados, neste primeiro momento, artigos publicados em periódicos da SciELO (biblioteca científica eletrônica que disponibiliza edições completas) e em revistas indexadas no Web of Science (base de dados em que é possível avaliar o impacto das publicações), somando cerca de 60 mil produções. A proposta é que outros conteúdos sejam integrados, como livros, trabalhos de eventos, objetos educacionais, entre outras produções.
Um dos principais desafios enfrentados na execução de uma política de acesso aberto na universidade são as restrições impostas por parte dos periódicos onde são publicados os trabalhos dos pesquisadores. Por isso, a resolução que estabelece as políticas de informação da USP recomenda à comunidade universitária a negociação com as editoras, de forma que o material possa ser disponibilizado gratuitamente pela instituição – muitas revistas científicas cobram pelo conteúdo, ainda que, no caso das universidades paulistas, os trabalhos tenham sido desenvolvidas com financiamento público.
Segundo Sueli, outro desafio enfrentado pela equipe que desenvolve o Repositório CRUESP é o tecnológico: são necessários ainda alguns ajustes em relação às ferramentas de cadastro e busca das produções, no entanto essa primeira versão já poderá mostrar a viabilidade da proposta e incentivar o aperfeiçoamento e manutenção do sistema.
A Conferência Luso-Brasileira de Acesso Aberto acontece até dia 9 de outubro na Biblioteca Brasiliana da USP e reúne especialistas e interessados em atividades de pesquisa, desenvolvimento, gestão de serviços e definição de políticas relacionadas com o acesso livre à produção científica.