Historiadores contam trajetória da Engenharia Mecânica na Poli

Shozo Motoyama e Marilda Nagamini lançaram "A Engenharia Mecânica da Poli/USP e suas contribuições para a sociedade brasileira".
Foto: Marcos Santos / USP ImagensLivro
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Convidado pelo professor Ronaldo Salvagni, coordenador do Centro de Engenharia Automotiva da Escola Politécnica (Poli) da USP, a registrar a história do Departamento de Engenharia Mecânica, o professor Shozo Motoyama relembra que o desafio o entusiasmou, ao mesmo tempo em que o deixou com o “pé atrás”. Isso porque a história do departamento, apesar de bonita, é, também, bastante complexa.

Assim, Motoyama, que é professor do curso de história na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, valeu-se do estratagema de colocar duas condições: “eu não queria prazo e eu não queria qualquer interferência no trabalho. E, para a minha surpresa, o professor Ronaldo aceitou, e eu fiquei sem muita saída, a não ser me engajar nesse trabalho.”

Após três anos, nasceu A Engenharia Mecânica da Poli/USP e suas contribuições para a sociedade brasileira, escrito em parceria com a historiadora Marilda Nagamini, e lançado no último dia 6 de junho. Editado pela Editora da Universidade de São Paulo, a Edusp, o livro conta como o departamento correspondeu aos desafios que a sociedade colocava à engenharia

O lançamento no anfiteatro do Departamento de Engenharia Mecânica, reuniu, além dos autores e de Salvagni, o professor José Roberto Castilho Piqueira, diretor da Poli, e os engenheiros Pedro Manuchakian, ex-vice-presidente de Engenharia de Produtos para a América do Sul da GM; Carlos Alberto Godinho, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Prysmian; e Pedro Feres Filho, presidente da Mistras South America, membro da comissão permanente de inspeção do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) e atual presidente do Comitê de Emissão Acústica da ISO (International Organization for Standardization).

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Para Ronaldo Salvagni, Poli vem cumprindo o seu papel de formar bons profissionais e aplicar o conhecimento para melhorar a vida das pessoas

Os convidados fizeram parte da mesa redonda proposta para a ocasião, pautada no tema “Contribuições da engenharia para o bem-estar da sociedade brasileira”, e apresentaram alguns dos esforços da engenharia para esse propósito. O recorte apresentado por Montoyama na mesa analisou o panorama histórico mundial no qual a sociedade se encontrava  enquanto a engenharia no Brasil ganhava corpo. Ao final da sua fala, o historiador depositou grande expectativa no futuro do departamento.

Da tecnologia ao mercado

Foto: Marcos Santos / USP ImagensProfessor Shozo Motoyama, o autor: sem pressa e sem interferências
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Professor Shozo Motoyama, o autor: sem pressa e sem interferências

Mediada pelo professor Ronaldo, que ressaltou a característica da engenharia de não se esgotar no conhecimento e na ciência, buscando sempre a sua aplicabilidade em prol da comunidade, a primeira apresentação ficou por conta de Pedro Manuchakian, que ateve a sua fala ao mercado automobilístico.

O engenheiro contou como as indústrias instaladas no Brasil adequam a sua produção ao mercado local. Como exemplo citou a adaptação dos veículos ao etanol em um prazo de três meses, bem como a adaptação às estradas locais. De acordo com o especialista, com o avanço da engenharia nacional, as empresas deram maior liberdade às fabricas no Brasil. Estas, por sua vez, passaram a inovar mesmo em desenvolvimento de veículos, projetados e implementados completamente em território nacional.

O engenheiro Carlos Alberto Godinho falou sobre a área da produção de óleo e gás, em especial offshore, que se desenvolveu no Brasil da década de 1970 e que, dessa forma, obrigou a engenharia nacional a reunir esforços para a construção das plataformas marítimas. Não havia, até os anos 1980, a construção de cabos para esses fins, e não existiam modelos e metodologias de cabos que possibilitassem o seu uso seguro, sendo construídos de modo empírico e baseando-se em experiências prévias.

Já na década seguinte, diante das condições críticas, foram desenvolvidos cálculos para que os modelos fossem mais rápidos, mais baratos e com grande confiabilidade. Isso, ressaltou o engenheiro, sempre buscando-se inovações e o contato com as universidades.

Ao comentar sobre as estatísticas dos 170 maiores acidentes com perdas significativas de vidas e patrimônio na indústria de petróleo, Pedro Feres Filho expôs que os erros operacionais são responsáveis por 20% dos casos, o que remete à importância crucial do treinamento e formação. As causas desconhecidas respondem, por sua vez, por 18% dos casos, e aí a universidade entra contribuindo com pesquisas para o aprimoramento das técnicas.

Entretanto, o maior destaque dado pelo engenheiro foi aos acidentes gerados por falhas mecânicas, que correspondem ao total de 41% dos acidentes. Passíveis de serem detectados e mitigados, a relevância da inspeção e do monitoramento é ressaltada por Feres Filho. Para ele, a engenharia possui um papel crucial nesse desafio, dado que, sempre que se constrói uma plataforma, há o risco, cabendo à inspeção e à melhoria das suas técnicas as contribuições para a redução desses percentuais.

O livro A Engenharia Mecânica da Poli/USP e suas contribuições para a sociedade brasileira pode ser adquirido no site e livrarias da Edusp.

Mais informações: site http://www.mecanica-poliusp.org.br/index.php/a-engenharia-mecanica-da-poliusp-na-vanguarda-do-desenvolvimento-do-brasil

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