Desde 2005, o Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP realiza pesquisas sobre a ação dos corantes na saúde humana. Os estudos, coordenados pela professora Danielle Palma de Oliveira, têm chegado a resultados preocupantes sobre a ação destes componentes.
Os testes realizados pela equipe faz uso de bactérias salmonela e culturas de células de fígados humanos para verificar os efeitos dos corantes nestas últimas. Além de Danielle, a pesquisa conta com o apoio de pesquisadores da Unesp de Araraquara e da Unicamp de Limeira. Da FFCRP, são 10 colaboradores para a realização das análises, entre técnicos e alunos.
A origem do interesse de Danielle pela área se iniciou ainda quando estudante de pós-graduação. O grupo de pesquisas a que pertencia observou a presença de corantes químicos ligados à indústria têxtil em um rio próximo à região metropolitana de São Paulo. Após estudos, o grupo detectou que a exposição aos corantes provocava ações mutagênicas, como a quebra do DNA de células.
Os estudos realizados atualmente pela docente envolvem cerca de 10 corantes da classe química AZO. Todos tiveram seus riscos à saúde comprovados, como conta:
“Eles apresentaram danos ao material genético, com quebra de DNA ou de cromossomos”.
Segundo Danielle, tais corantes são utilizados principalmente pela indústria têxtil, para o tingimento de fibras. O risco é o contato do corante com o suor, que faria com que ele pudesse ser transferido para a pele. Visando comprovar esta hipótese, o grupo está desenvolvendo culturas de células de pele humana para realização de testes.
Com os avanços na questão dos corantes têxteis, Danielle iniciou o estudo de corantes ligados a outras indústrias, como os utilizados para mudança de coloração dos cabelos. A pesquisa ainda está em fase inicial, mas já revelou alguns efeitos da utilização do produto. “Já foi identificado que esses corantes são tóxicos, mas ainda não conseguimos verificar se eles também causam lesões ao DNA”, declara.
Papinha e legislação
A preocupação com a ação dos corantes químicos na saúde humana não se dá apenas no laboratório da FCFRP. Segundo Danielle, pesquisas sobre a ação destes componentes crescem principalmente nos Estados Unidos e na Comunidade Europeia, que não detém legislações específicas sobre as questões da utilização de corantes.
Um dos motivos do alerta se deu por conta de resultados em pesquisas europeias relacionadas às ações de corantes em alimentos infantis. “Foi demonstrado que algumas papinhas podem levar as crianças a sofrerem alteração de comportamento e alergias, mas em pouco tempo [as substâncias prejudiciais] já estarão fora de circulação”, conta a professora.
A questão do risco dos corantes nunca foi estudada do modo devido por conta da suposição de que estes eram componentes inofensivos. Porém, em virtude das descobertas recentes, a situação pode ser mais complexa. “Os corantes são substância perigosas e merecem mais atenção”, declara Danielle.
No Brasil a legislação acerca do uso de corantes para a indústria têxtil também é inexistente, havendo regulação somente para o setor alimentício. A professora, a partir dos resultados de suas pesquisas, propõe uma mudança na regulamentação. “Nós procuramos utilizar os resultados de nossas pesquisas para embasar uma proposta de mudança na legislação”, conta. Porém, com os estudos em fase inicial, ela admite que esta transformação pode ser lenta. “Seria necessária uma reunião técnica com os legisladores para mostrar nossos resultados, mas isso ainda vai demorar um pouco”, conclui.