Laboratório na FFLCH estuda Mediterrâneo Antigo de forma integrada

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Bruna Pellegrini, especial para o USP Online 

Pesquisadores de todo o mundo têm cada vez mais priorizado o aspecto multidisciplinar dos fatos, ao mesmo tempo em que ampliam o campo de visão de seus estudos, a fim de contextualizar os acontecimentos e produtos de seu trabalho. Um grupo de cerca de 20 pesquisadores da USP tem trilhado junto esse caminho, ao estudarem o Império Romano e povos do Mediterrâneo Antigo.

Desde 2007, a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (FFLCH) abriga o Laboratório de Estudos do Império Romano e Mediterrâneo Antigo (LEIR-MA). O Laboratório é membro do LEIR Nacional, grupo de abrange no total seis universidades públicas brasileiras. Os estudiosos da USP têm um diferencial em relação aos seus colegas. “Nós fazemos questão de não focar nas divisões historiográficas tradicionais. Por isso, nós estudamos o Mediterrâneo Antigo, incluindo o Império Romano, como um todo”, esclarece Norberto Guarinello, docente da FFLCH e coordenador geral do Laboratório da USP.

Diálogo

O desafio não é pequeno, uma vez que o período pesquisado pelo grupo contempla 18 séculos da História Antiga. “Estudamos desde povos do século XIII a.C. ao século VI d.C.. Para proporcionar o diálogo entre os pesquisadores de diferentes períodos, temos um tema central ao longo do ano para todas as atividades”, conta Guarinello. O tema deste ano é ‘modelos de integração’. Com isso em mente, são feitas leituras programadas pelos vários grupos de pesquisa do laboratório.

Estudiosos de outras instituições são convidados periodicamente a fazer palestras sobre o tema, descreve Guarinello.  “Temos uma boa relação com professores da Universidade de Oxford e da Escola de Altos Estudos de Paris”.  Hoje o LEIR-MA conta com 18 pesquisadores, entre historiadores e arqueólogos, que vão desde alunos de graduação (que fazem iniciação científica) a pós-doutores.

 

A nossa intenção é estudar a relação desses povos, em vez de estudar separadamente Roma.

 

Guarinello é professor da graduação de História na FFLCH.  Ele avalia que muitos alunos em início de carreira se interessam por História Antiga, mas percebe que têm resistência a pesquisar o tema. “O campo de estudo é muito amplo e, em um momento da carreira acadêmica dentro dessa área, a pesquisa requer o conhecimento de outro idioma além do português, o que muitas vezes é uma barreira”.

Um dos produtos da atividade do grupo é a revista online Mare Nostrum, de periodicidade anual. A publicação conta com artigos de diferentes temáticas e abordagem, mas todos tocam a problemática proposta pelo laboratório.

O evento que integra todos os trabalhos e pesquisadores em rede é o Encontro do LEIR-MA, um colóquio anual, que teve sua sexta edição finalizada no início de dezembro deste ano. Nessa ocasião, cada membro do Laboratório conhece com mais detalhamento o que seus colegas têm desenvolvido e trocam ideias. “Como a nossa intenção é estudar a relação desses povos, em vez de estudar separadamente Roma, Oriente, esse tipo de encontro se faz fundamental”, lembra Guarinello.

Proposta tradicional na USP

Mas por que é importante estudar História Antiga de uma forma mais integrada? O que isso vai contribuir para sociedade? Guarinello já está acostumado com tais indagações: “estudamos o passado para compreender o presente, já que somos frutos de vários passados, que deram origem a nossa atual língua, política, várias ciências e a inúmeros conhecimentos empíricos da realidade, por exemplo.” E completa: “ao estudarmos nosso passado de forma mais integrada, poderemos compreender melhor o que vivemos hoje em dia.”

O coordenador do LEIR-MA aponta o histórico da Universidade em focar leituras integradas dos fatos. Ele conta que um dos fundadores da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP, o historiador Fernand Braudel, já enfatizava, na década de 30, a importância de se estudar o Mediterrâneo como um todo e não cada povo separadamente. “Braudel fugia do olhar eurocêntrico para a História e passou isso aos seus alunos, um grupo de estudiosos que formou uma corrente historiográfica na USP”.

Apesar de não ter atuação no ensino básico, professor Guarinello almeja que, indiretamente, seu trabalho no Laboratório contribua para a mudança curricular do ensino nacional, com o objetivo de que as aulas dividam menos os períodos historiográficos e seu permitam o desenvolvimento de uma visão brasileira para os fatos, tal qual Braudel pregava.

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