Pesquisas se aprofundam em questões políticas e regulação da emissão de CO2

O núcleo também analisa tecnologias que não são financiadas pelos meios tradicionais como a FAPESP e o CNPq.
Foto: Divulgação / IEE
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Apesar de nem sempre ser citado diretamente nas manchetes, o aumento da concentração de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera continua a ser um fenômeno de grande impacto ambiental com significativa influência no aumento da temperatura do Planeta. E as possíveis soluções, mais que tecnológicas, são políticas – quer dizer, passam pela implantação de políticas para regulação e redução dessas emissões. Sediado no Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, o Núcleo de Pesquisa em Políticas e Regulação de Emissões de Carbono (Nuprec) se volta com mais atenção a essas questões

O grupo coordenado pelo professor Sérgio Pacca surgiu com o intuito de reunir pesquisadores que já desenvolviam trabalhos em colaboração relacionados às políticas climáticas. Os encontros em eventos como a Conferência das Partes (COP) da ONU e a Rio +20 também contribuíram para enriquecer o rol de especialistas do núcleo. Assim, o Nuprec surgiu como uma evolução das pesquisas que cada um dos membros faziam sobre o efeito estufa, e possui diversos projetos voltados a análises de novas propostas de mitigação do problema.

De acordo com o coordenador, muitas pessoas demonstram preconceito em relação às novas tecnologias por não conhecerem seus custos e resultados práticos. Dessa maneira, uma das funções do núcleo é avaliar as propostas, por meio do método científico, para então depois divulgar o seu potencial e viabilidade.

Atualmente ele está trabalhando em uma ferramenta analítica de pesquisa chamada Avaliação do Ciclo de Vida, que analisa e compara diferentes tecnologias. Um exemplo é a comparação do álcool com a gasolina, em que se avalia qual combustível seria mais vantajoso para a redução das emissões.

Captura e Armazenamento de Carbono (CCS)

Foto: Hans Thoursie / freeimages
Foto: Hans Thoursie / freeimages

Há no núcleo também um interesse em analisar tecnologias que não são financiadas pelos órgãos tradicionais, como Fapesp e CNPq, por se tratarem de propostas ainda muito incipientes. Um exemplo é a captura e o armazenamento de carbono de biomassa (BECS). A partir dessa tecnologia, o CO₂ liberado na produção do etanol devido à fermentação do açúcar seria apreendido e armazenado em formações geológicas como um aquífero salino.

A terceira edição do Workshop de Bioenergy e CSS, realizada em 2013 pelo Nuprec em parceria com o Instituto de Análises de Sistemas Aplicados (IIASA), debateu diferentes estratégias para a implantação do método baseado em BECS. A proposta, segundo o Núcleo, seria viável porque o dióxido de carbono liberado na fermentação é um gás limpo que não necessita de tratamento, reduzindo os custos para a sua captura.

No entanto, há algumas condições para o armazenamento do CO₂. Ele deve estar a uma profundidade de 1200 metros, em que a pressão é elevada, e assim a chance do gás sair é muito pequena. De acordo com o professor, os Estados Unidos já vêm monitorando essa tecnologia há algum tempo e não houve problemas do CO₂ escapar.

Para que essa tecnologia seja aplicada, no entanto, é preciso criar um mercado que a torne interessante em termos de custo. Um dos gastos necessários é com a compra de compressores que posteriormente irão consumir mais eletricidade. O Nuprec realizou recentemente um estudo para avaliar a viabilidade econômica da proposta e concluiu que seria preciso aumentar em apenas 2 centavos o preço da gasolina para a implantação do BECS.

Projetos desenvolvidos

Foto: Divulgação / IEE
Foto: Divulgação / IEE

Atualmente o núcleo está analisando as possibilidades do uso do CCS para reduzir as emissões de dióxido de carbono na produção do cimento. O setor tem um grande interesse nessa tecnologia, pois atualmente é impossível produzir o clínquer – ingrediente essencial para produção do cimento – sem a liberação direta de CO₂.

Outro projeto em que Nuprec está trabalhando envolve a análise da quantidade de emissões de gases do efeito estufa sob a ótica do consumo. “Hoje em dia existe uma grande discussão de não responsabilizar simplesmente o [país] produtor pelas emissões, mas também o consumidor”, ressalta Pacca.

Dessa maneira, os Estados Unidos, por exemplo, seriam responsabilizados pelas emissões de CO₂ de países como China, que é um dos seus principais importadores, aumentando assim as emissões per capita dos americanos.

“Hoje em dia existe uma grande discussão de não responsabilizar simplesmente o [país] produtor pelas emissões, mas também o consumidor.”

O professor também destaca um estudo sendo realizado em parceria com a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) para avaliar o potencial de redução dos gases do efeito estufa em cada um dos setores da indústria: cimento, siderúrgica, alumínio e química.

“Nossa proposta foi feita sob ótica do consumo: em vez de reduzirmos as emissões da produção de cimento, vamos usar menos cimento”, sugere o pesquisador. Uma das alternativas apresentada é treinamento de profissionais da área para usar o cimento de forma correta e sem desperdício.

Processo de Adaptação

Foto: Divulgação / IEE Profa. Dra. Ana Maria Nusdeo, que recebeu o primeiro lugar na categoria “Direito” da premiação pelo seu livro “Pagamento por Serviços Ambientais: Sustentabilidade e Disciplina Jurídica” da Editora Atlas
Foto: Divulgação / IEE
Professora Ana Maria Nusdeo, primeiro lugar na categoria “Direito” do prêmio Jabuti pelo seu livro “Pagamento por Serviços Ambientais: Sustentabilidade e Disciplina Jurídica”, da Editora Atlas

Segundo o professor, os pesquisadores já vêm trabalhando com a ideia de investir recursos econômicos em adaptação aos impactos sofridos com as mudanças climáticas. Uma das alternativas, para o Brasil, seria trabalhar em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para buscar formas de melhorar a resistência da agricultura brasileira.

“Para o governo é algo interessante [adaptação], porque aparece mais que mitigação – mas acho que ainda é importante investir em mitigação.”

Outra possibilidade é investir em tecnologias de irrigação; melhoramento genético das espécies, tornando-as mais resistentes à seca; e também criar sistemas de alerta e proteção para populações que moram em zonas de encostas.“Para o governo é algo interessante, porque aparece mais que mitigação – mas acho que ainda é importante investir em mitigação”, ressalta o professor, ao falar dos investimentos públicos.

Apesar dos vários estudos em prol da redução e regulação do CO₂, ultimamente o Brasil não está muito engajado em concretizar o resultado destas pesquisas. Mas esperar os outros países darem o primeiro passo para tomar uma atitude, segundo Pacca, não é uma boa estratégia, já que seremos forçados a agir pelos os outros.

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