Musculatura esquelética pode ser prejudicada por excesso de peso

O estudo de iniciação científica foi desenvolvido por João Lucas Penteado Gomes, que integra o Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular do Exercício Físico da EEFE.

Experimentos realizados na Escola de Educação Física e Esportes (EEFE) da USP mostram que a obesidade, além de todas as suas conhecidas consequências, pode também causar prejuízos à musculatura esquelética. O estudo de iniciação científica foi desenvolvido por João Lucas Penteado Gomes, que integra o Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular do Exercício Físico da EEFE.

De acordo com o pesquisador, que é formado em Educação Física pela EEFE, pelo menos 13% da população mundial apresenta algum grau de obesidade. Ele ainda revela que esse número tende a crescer: “Existem projeções apontando que metade da população será obesa até 2030″, avisa, ressaltando que “a obesidade leva a diversos problemas de saúde pública, como doenças crônicas, diabetes, hipertensão e câncer, mas também é um problema sistêmico e afeta diversos órgão e tecidos”.

A obesidade afeta diversas parte do corpo, inclusive o músculo esquelético. Gomes afirma que pouco se sabe sobre os efeitos do excesso de peso nesse tipo de musculatura, pois existem poucas evidências na literatura científica acerca do assunto. Tomando a obesidade como um problema de saúde pública bastante sério e sabendo da escassez de estudos relacionando a condição com a musculatura esquelética, a proposta da pesquisa foi desvendar essa questão.

Experimentos

Gomes se utilizou de ratos Zucker em seu experimento, espécie geneticamente escolhida, que apresenta obesidade espontaneamente. Esse modelo genético é conhecido por possuir uma mutação espontânea no gene que codifica o receptor de leptina — hormônio peptídico responsável por dar saciedade. Entretanto, essa mutação não altera a expressão do receptor, nem mesmo impede a ligação com o hormônio (leptina). O que altera é a dimerização do receptor, impedindo o mecanismo de sinalização intracelular desencadeado pelo receptor.

De acordo com Gomes, a obesidade humana acontece de maneira semelhante à desses animais, um dos motivos pelo qual escolheu usá-los. “A pessoa engorda aos poucos, fazendo com que ela tenha o comportamento parecido com esses ratos. Esse não é o único fator para se tornar obeso, mas tem grande relevância”, explica.

Os ratos foram divididos em quatro grupos: um grupo magro; um grupo magro e treinado; um grupo obeso; um grupo obeso e treinado. O protocolo de exercícios para os dois grupos treinados foi de dez semanas de natação, nas quais eles treinaram 60 minutos por dia e utilizando um sobrepeso preso ao seu corpo, sendo esse um treino moderado. Após as semanas de exercício físico, todos os animais dos quatro grupos foram sacrificados e sua a musculatura esquelética foi extraída para análise, utilizando-se principalmente o músculo sóleo.

Em um primeiro momento, foram feitas análises estruturais dos músculos. Gomes realizou um corte seriados em lâminas, observando cada uma das frações da musculatura, e percebeu que havia uma rarefação capilar nos ratos obesos sedentários. “A rarefação capilar é a falta de capilares, pequenos vasos sanguíneos, e isso é um grande problema por ser um dos fatores que contribuem, por exemplo, com a hipertensão”, afirma a pesquisador. Ele explica que a rarefação capilar também faz com o que tecido tenha uma função prejudicada, pois deixa de receber oxigênio e nutrientes.

Para compreender o motivo da rarefação capilar, foram feita análises de estudo das proteínas e microRNAs. “Os micro-RNAs são pequenas moléculas de RNA que não codificam proteínas, mas interagem com RNAs mensageiros. Quando essa interação é complementar ou parcial, inibem a ação do RNA mensageiro e eles não transcrevem proteínas nos ribossomos”, explica o pesquisador. Investigando quais deles poderiam estar relacionados com a rarefação capilar, Gomes chegou no microRNA-126, relacionado com a formação de novos vasos.

Efeitos na rede vascular

O alvo desse microRNA é a proteína que ajuda a regular a via angiogênica, de criação de novos vasos. “Foi verificado que o microRNA-126 estava exageradamente aumentado nos ratos obesos, fazendo com que diversas proteínas estivessem desreguladas”, revela. Olhando para os ratos obesos que praticaram exercício físico, Gomes notou que a atividade normalizou a expressão desse microRNA e de todas as outras proteínas, fazendo com que o músculo voltasse a ter uma função vascular melhor e uma rede vascular preservada.

O trabalho de Gomes foi essencial como primeira mostra de que a obesidade, além de todas as suas conhecidas consequências, também traz grandes prejuízos à musculatura esquelética. O pesquisador concluiu que o exercício físico foi essencial para o grupo obeso treinado, pois recuperou a sua rede microvascular, a qual estava severamente prejudicada. “Apesar desse tipo de exercício melhorar alguns fatores para os ratos magros, ele foi muito mais importante e significativo para os que eram obesos”, finaliza Gomes.

A pesquisa Treinamento físico aeróbio regula a expressão do MIR126 amenizando as alterações microvasculares do músculo esquelético em ratos Zucker obesos, foi orientada pela professora Edilamar Menezes de Oliveira. Gomes foi premiado em 2013, ainda com o estudo incompleto, com uma menção honrosa no Congresso de Iniciação Científica, o qual envolve USP, Unesp e Unicamp. Em 2015, com o trabalho concluído, foi premiado no Simpósio da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP) na área de Educação Física pelo melhor trabalho de pesquisa básica.

Marília Fuller / Agência USP de Notícias 

Mais informações: email joao.gomes@usp.br

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