Um gaúcho em Ribeirão Preto

Erich Brack, mestre pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP

 

 

Posso dizer, minha história com a USP, começou antes do meu período universitário. Nascido em Porto Alegre, São Paulo era e é o apogeu do nosso Brasil, e tive a oportunidade de conhecer
São Paulo quando meu padrinho foi fazer sua Residência Médica em Ortopedia, na USP em São Paulo. Nas férias escolares (1968), fui convidado a ficar uns dias na casa dos padrinhos, em São Paulo, e nos finais de semana fomos conhecer Santos e Guarujá, além do Museu do Ipiranga. Deveria estar com sete ou oito anos de idade.

Já no ensino médio, quando o tio era examinador da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia), fui novamente com ele para São Paulo, mas, desta vez, fomos para Ribeirão Preto, e fui conhecer o campus em Ribeirão Preto, localizado na fazenda do Rei do Café, ainda quando estava cursando o segundo grau (1978). Houveram também frequência num evento da SBPC quando sediado no campus da USP (São Paulo), além de muitos outros, Gastrão, inclusive!

Muito me impressionou aquele modelo de Universidade americana, onde os professores e melhores técnicos moravam todos dentro do próprio campus universitário e tinham a contrapartida do dever com o lema, Ensino, Assistência e Pesquisa, em tempo integral e dedicação exclusiva. À época, fomos ciceroneados pelo Prof. Doutor José Paulo Marcondes de Souza, professor titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia, e juntamente com sua esposa, d. Nivea, iam rememorando os primórdios da criação da Faculdade de Medicina, que ajudaram a criar, ao migrarem para Ribeirão Preto.

A construção das salas de aula, concluídas, mas os mobiliários, sem verbas, eram constituídos de caixotes de madeira que serviam como cadeiras e mesas nas salas de aula. Nas horas de lazer, como moravam no campus, muito distante do centro da cidade, ao terminar a sessão de cinema, tinham de voltar caminhando até a moradia no campus, pois já não havia mais disponibilidade de transporte público, por toda extensão da Avenida do Café em companhia dos estudantes, eventualmente.

Ainda não existia o prédio das “Clínicas Novo”, quando todas atividades ainda se concentravam no prédio hoje ainda conhecido como Unidade de Emergência. Posteriormente, já cursando  Medicina em minha cidade natal, retornei à cidade de Ribeirão Preto por conta do Curso de Verão para os monitores de Fisiologia Humana, (1983), oferecido para Faculdades de Medicina ao Brasil inteiro, quando ficamos hospedados na antiga moradia do Prof. Covian, bastante próxima a casa do Prof. Marcondes, que havia mudado para sua residência própria, creio que por conta
de sua aposentadoria.

Ao término do meu curso de Medicina, em Porto Alegre, tive a expectativa de entrar para a especialização, quando se busca oportunidades em concurso, quando fui agraciado com uma vaga para a residência médica de Neurocirurgia, junto ao Departamento de Cirurgia e Ortopedia. Muitas vivências, fatos pitorescos, além daquele tradicional chopp do Pinguim, ao final de tarde.

Como são muitas vagas para a residência, foi oportunidade de conhecer muitos amigos e colegas de várias regiões de nosso imenso Brasil, muito queridos entre eles o dr. Palocci, o dr. Carlotti, hoje nosso Reitor, além de muitos outros professores ilustres, como Prof. Forjaz, Prof. Colli, Prof. Martelli, Prof. Hélio Machado, Prof. Assirati, entre outros.

Ao término da Residência Médica, consegui ingressar imediatamente em uma vaga de pós-graduação em Clínica Cirúrgica, e então minha permanência na cidade de Ribeirão Preto foi se estendendo por mais alguns anos, associando se também como médico assistente na unidade de emergência por mais três anos, quando retornei para o meu Rio Grande do Sul, em final de 1992.

E, ao chegar em casa, observei que sentia muita saudade dos hábitos gauchescos, como o churrasco e o chimarrão. Devido ao clima seco da cidade, era bem difícil manter o hábito, pois ao servir o mate, a água escorria por cima, ao invés de penetrar na mesma!

Foram muitas vivências que tive na USP, pois como não tinha família no Estado, o campus da USP, além das atividades educativas, era importante também para as atividades de lazer, piscinas, quadras de tênis, local para passear de bicicleta, locais de descanso e de convívio nas diversas sedes, confraternizações, nestes anos de adulto jovem que certamente marcaram muito nossa vida acadêmica e onde se observa esta Universidade magnífica, inteiramente inserida no contexto social, cultural e econômico do nosso País.

Muito me marcava a assiduidade com que o querido Prof. Marcondes se deslocava na saída para sua residência, e íamos pessoalmente à agência postal, na sede antiga da Faculdade de Medicina, onde se concentravam os laboratórios das disciplinas básicas, como Fisiologia, Anatomia, Histologia, Embriologia, Bioquímica e buscar pessoalmente as suas correspondências postais. Uma rotina diária, antes de almoçar.

Após o movimento de redemocratização com as Diretas Já, praticamente coincidiu com minha ida para São Paulo, em fevereiro de 1986. Saindo de uma universidade privada e da casa de seus pais, e entrando para uma universidade pública, em outro Estado, foi um ganho enorme também extraclasse e mostrando que, certamente, estudar vale a pena.

Outro dia, já tendo retornado aos pagos do meu Rio Grande do Sul, e ao assistir rotineiramente o Jornal da Cultura, tive a grata surpresa de ser informado que meu colega da residência médica, havia sido nomeado Reitor. E muito orgulhoso da conquista do colega, pois sempre se mostrava muito estudioso e de condutas acadêmicas impecáveis.

Muito aprendi, viajei pelo mundo, em conjunto com nossos mestres, em Congressos Brasileiros e Europeus, também favoreceu enormemente nosso aprendizado.

Houve também um pequeno acidente por conta de uma cirurgia dentária, que não teve evolução favorável no princípio, mas posteriormente corrigida, e acredito que tenha aprendido muito de
Medicina, na prática como paciente, nestes seis dias de hospital, que nos seis anos que passei estudando Medicina, na teoria. (Brincadeira de um sobrevivente de angina de Ludwig).

Virei fotografia de publicação cientifica no Congresso de Cirurgia Cabeça e Pescoço. Eventualmente ainda retornamos para algum evento ou reencontrar grandes amigos. Certamente esta Universidade contribuiu muito no meu aprendizado de várias décadas de experiência, acadêmica e pessoal inclusive. Neste momento, considerando última atividade realizada, em 2023, desde 1968, totalizam 55 anos, de convivência com a USP.

Certamente ainda teríamos muitas rodadas de conversa para colocar grande parte destas reminiscências em dia!

USP, parabéns por todos estes 90 anos de existência!

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