Oferecido pelo Instituto de Física da USP há mais de duas décadas, o projeto desperta a curiosidade de estudantes do ensino fundamental e médio ao ensinar ciência com alegria e criatividade
Um foguete pronto para explodir. Os monitores, Aureliano Pereira dos Santos Neto e André Fabritte, preparam a plateia. “Prestem muita atenção”, orientam. Os estudantes, entre 6 a 17 anos, ficam em silêncio. Mas chegam a duvidar de que aquele foguete feito com garrafa pet e um cone de papel na ponta vai mesmo alçar voo.
Aureliano, 20 anos, estudante do Instituto de Física (IF) da USP, faz suspense. Anexa um conduíte e borrifa álcool no interior da garrafa. Chacoalha o experimento, acende o fósforo. Aponta o foguete para o alto bem distante da plateia e, de repente, um estrondo. O foguete de cartolina está lançado.
Surpresa. Emoção. E risos. Por essa reação e pela curiosidade do público, o físico e professor Fuad Daher Saad, do IF, renova o Show de Física, que há 25 anos é apresentado para alunos das escolas públicas e privadas. “As demonstrações buscam transpor as lições dadas em sala de aula para um novo cenário, rico em estímulos, capaz de atingir o emocional do espectador”, explica.
Saad procura articular a teoria com a prática utilizando uma série de experimentos que os professores também podem desenvolver em sala de aula. “O nosso projeto não tem como meta ensinar física, mas preparar o emocional dos estudantes para aprender. Os estudantes entendem, através dos experimentos, o que é eletricidade, eletromagnetismo, óptica, ondas mecânicas e sonoras, termodinâmica e mecânica.”
Da teoria à prática
Os 18 monitores que participam do Show de Física se revezam em duas apresentações diárias no auditório Alessandro Volta do Instituto de Física da USP. O coordenador Saad já perdeu a conta do número de estudantes que participaram do projeto. “Talvez uns 700 mil alunos, vindos de todo o Brasil. Mas o dado interessante é que cerca de 70% dos calouros do Instituto de Física assistiram ao show e, o mais incrível, por várias vezes.”
Aureliano comprova esse índice. Logo que passou no vestibular, já se inscreveu para ser monitor do evento. “Ser físico nem passava pela minha cabeça. O meu professor era um sujeito que só dava teoria, as aulas eram monótonas. Aí, quando vi o show, percebi, como ensina o professor Fuad, que a ciência não é fórmula: a ciência é vida.”
Agora no terceiro ano, Aureliano conta que fez mais de 200 shows. “Eu me divirto tanto quanto os estudantes. Os experimentos são os mesmos, mas cada apresentação é diferente da outra.”
O monitor André Fabritte também garante que o show é um grande aprendizado para a sua trajetória de futuro professor e cientista.
“É muito estimulante ver o interesse dos alunos. Eles perguntam, interagem. Muitos vêm do interior e de outros Estados. Viajam a noite inteira para chegar aqui às 9 horas e interagir animados.” André Fabritte, monitor do Show de Física.
Os dois monitores contam que, nos últimos meses, as escolas públicas não conseguem vir para o Show de Física. “É muito triste, mas eles desmarcam porque a escola não conseguiu dinheiro suficiente para fretar o ônibus. Acho que o Estado e a Prefeitura deveriam dar uma atenção maior para que todos os estudantes possam ter acesso.”
André e Aureliano não medem esforços para incentivar os futuros cientistas. Fazem questão de ir por conta própria até as escolas da periferia para apresentar o show de graça. “Nós reunimos os experimentos mais fáceis de manusear e transportar e atravessamos a cidade. Pegamos ônibus, metrô e trem, até chegar aos bairros distantes. Quando iniciamos o show, a alegria da garotada é o nosso maior reconhecimento.”
Quando acompanha o idealismo dos monitores, o coordenador Fuad Daher Saad fica satisfeito. Paulista de Nova Granada, 77 anos, o professor graduou-se em Física na USP em 1967. “Eu era presidente do Grêmio da Filosofia e, na época, fui um dos estudantes presos pelo Deops, junto com Mário Schenberg, um dos maiores físicos brasileiros, o sociólogo Florestan Fernandes e outros. Fui processado e absolvido.” Lembranças dos “anos de chumbo” que não o impediram de divulgar e incentivar a ciência para as novas gerações. “O sonho que deixo todos os dias no horizonte é de continuar sendo e vivendo professor”, afirma Saad.
Leila Kiyomura / Jornal da USP
O agendamento para participar do Show de Física do Instituto de Física da USP deve ser feito pelos telefones (11) 3091-6642 e 3091-6713, das 8 às 12 horas, e pelo email dolivieri@usp.br, aos cuidados de Maria Aparecida O. M. Olivieri (Dayse)