Rúvila Magalhães / Agência USP de Notícias
Estudos realizados no Laboratório de Metabolismo Energético do Instituto de Química (IQ) da USP, membro do Cepid de Processos Redox em Biomedicina, mostram que animais expostos à dieta de jejum intermitente por três semanas apresentam peso final menor que o dos animais controle, que estavam recebendo comida normalmente. No entanto, o estímulo de fome nesses animais é persistente, até mesmo quando estão totalmente alimentados.
“Esses animais apresentam uma menor conversão energética, ou seja, aproveitam de maneira menos eficiente a energia contida nos alimentos”, destaca o biólogo Bruno Chaussê, que desenvolveu sua tese de doutorado no IQ. O estudo Intermittent Fasting Induces Hypothalamic Modifications Resulting in Low Feeding Efficiency, Low Body Mass and Overeating foi orientado pela professora Alicia Kowaltowski.
Segundo Chaussê, a motivação veio de um estudo anterior que também fez uso da dieta de jejum intermitente. Nele foi percebido que os animais submetidos a esta dieta ficam mais leves, mas também foi verificado que nos dias em que a ração fica disponível eles comem muito e quase compensam a falta de alimentação do dia anterior. Para tentar explicar esse fenômeno é que o presente estudo foi iniciado.
O estudo é direcionado apenas aos animais. “Nós não trabalhamos com aplicação direta para seres humanos e estamos, na verdade, em busca dos mecanismos que promovem os efeitos verificados após esses ciclos de jejum”, adverte o biólogo. “No entanto, a partir dos nossos estudos podemos perceber que nem toda forma de perda de peso, por meio de jejum, é, necessariamente saudável. Algumas das alterações verificadas nos ratos devem sim acontecer também com seres humanos”.
Podemos perceber que nem toda forma de perda de peso, por meio de jejum, é, necessariamente saudável.
Para a realização do trabalho foram utilizados ratos machos divididos em dois grupos. Um grupo foi submetido à dieta do jejum intermitente e o outro recebia alimentação normalmente. O grupo com a dieta passava 24 horas sem nenhuma alimentação e 24 com ração à vontade.
Segundo o pesquisador, o peso dos animais controle aumenta constantemente, enquanto os animais submetidos à dieta têm flutuação de peso de 10% diariamente, ou seja, no dia em jejum perdem 10% e no dia com alimentação, ganham 10%, em média. Esses animais têm aumento de peso somente por alguns dias e, depois de certo, ponto o peso fica estabilizado.
Monitoramento
“O corpo dos animais converte menos massa ingerida em peso”, explica o pesquisador. A partir dessa constatação o estudo foi direcionado a avaliar possíveis motivos para isso. Foi feito monitoramento dos animais buscando alguma alteração significativa dos fatores fisiológicos.
Primeiramente foi descartada a perda de peso pela movimentação dos animais. Logo em seguida também foi descartada a alteração por diferenças no metabolismo mitocondrial. O estudo das mitocôndrias é muito importante na pesquisa porque essas organelas são responsáveis por manter a temperatura corporal e o peso.
Em conjunto com Cepid Obesidade e Comorbidades, coordenado pelo professor Licio Augusto Velloso, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o pesquisador passou a analisar o hipotálamo. Nesta região do cérebro é feito o controle do peso e equilíbrio energético. Os estímulos do hipotálamo promovem a sensação de fome e saciedade. O pesquisador passou a olhar para essa região, reparando nos níveis de expressão de moléculas envolvidas no controle dessas sensações.
Fome intensa
“Há um indicativo forte que essa sequência de jejuns intermitentes aumenta essa sinalização de fome. Há um passo importante de controle que é alterado por essa sequêencia consecutiva de jejum”, explica Bruno. O estímulo da fome é persistente, mesmo quando os animais estão alimentados, ou seja, a sensação de saciedade é diminuída.
Além disso, foi percebida uma diferença de modulação em outro neurotransmissor, o TRH, no período que eles estão em jejum e alimentados. O neurotransmissor está relacionado com taxas metabólicas e a liberação de hormônios tireoidianos, associados com a diferença conversão energética.
“A conversão energética é provavelmente consequência do aumento do gasto energético devido às altas taxas metabólicas no dia que esses animais estão alimentados, associadas ao aumento da queima de gordura do dia em que eles estão de jejum”, relata.
Próximos passos do estudo são compreender quais os mecanismos que estão sendo desencadeados pelos estímulos desses neurotransmissores para gerar esse aumento de fome e diminuição de conversão energética.
Mais informações: email brunochausse@gmail.com