Luz violeta pode ser usada como clareador dental, mostra estudo

Experimentos no Instituto de Física de São Carlos mostraram que a luz violeta tem energia suficiente para quebrar os pigmentos do dente.

Experimentos no Instituto de Física de São Carlos mostraram que a luz violeta tem energia suficiente para quebrar os pigmentos do dente

O clareamento dental feito apenas com a aplicação de luz violeta se mostrou tão eficaz quanto os métodos já conhecidos. A eficácia foi comprovada através de um estudo desenvolvido por Vitor Hugo Panhóca, pesquisador e pós-doutorando do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP. Ao contrário da luz ultravioleta, por exemplo, a violeta é uma luz visível e não ionizante. Isso significa que ela pode ser vista, da mesma forma que se enxerga uma luz de lâmpada incandescente ou fluorescente.

Hoje, o clareamento dental pode ser feito de várias maneiras e, apesar de muitas pessoas o fazerem com métodos caseiros, muitos pacientes optam por realizá-lo em consultórios odontológicos, nos quais a técnica é baseada na aplicação de um LED azul, em conjunto com gel de peróxido (água oxigenada concentrada).

Quando é aplicada nos dentes, a luz excita o gel, que libera substâncias responsáveis por quebrar os pigmentos que mantêm os dentes com aquele aspecto amarelado. “É mais seguro fazer o clareamento em consultório odontológico, porque nele se impede o contato do gel com os tecidos moles, como gengiva e bochecha. A interação do peróxido com esse tipo de tecido pode causar danos irreversíveis, como câncer”, explica Vitor Hugo, complementando que, atualmente, para concluir o processo de clareamento nos consultórios, os pacientes passam por até três sessões, com duração de aproximadamente quarenta minutos cada.

Existem vários estudos feitos por pesquisadores de outros países, como da Croácia e da Itália, que descrevem a potencialização da eficácia do clareamento através do uso de LED violeta associado à aplicação de gel de peróxido de hidrogênio ou de carbamida. Sabendo disso, ao ter aplicado apenas essa luz em dentes bovinos e humanos — sem o uso de gel — o pesquisador do IFSC notou que houve o processo de clareamento dental.

Eficácia

Aparelho que integra um LED, desenvolvido no estudo, tem custo entre R$ 3 e R$ 5 mil | Foto: Divulgação
Aparelho que integra um LED, desenvolvido no estudo, tem custo entre R$ 3 e R$ 5 mil | Foto: Divulgação

Aliás, o processo analisado, segundo Vitor Hugo, mostrou-se tão eficaz quanto aos tratamentos nos quais são usados os tais géis. Hoje, por exemplo, grande parte dos pacientes que fazem clareamento dental com o uso de gel, combinado ou não com a luz, reclama de hiper-sensibilidade nos dentes. Mais de cinquenta pacientes que participaram dos testes realizados por Vitor, com a aplicação de luz violeta sem o gel, não se queixaram de qualquer sensibilidade.

“Observamos que a luz violeta tem energia suficiente para quebrar os pigmentos do dente, da mesma maneira que os géis fazem. A diferença é que, enquanto os géis de peróxido agem de modo mais químico, a luz atua de maneira mais física”, explica ele, que desenvolveu esse estudo sob a orientação do professor Vanderlei Bagnato, do IFSC, e em parceria com as professoras Alessandra Rastelli, da Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (Unesp/Araraquara) e Fátima Zanin, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e com o professor Aldo Brugnera, da Unicastelo, campus de São Paulo.

“O professor Aldo Brugnera, por exemplo, também tem estudado o clareamento dental através de LED violeta e tem encontrado resultados semelhantes àqueles que obtivemos aqui no Instituto de Física de São Carlos”, diz o pesquisador.

Após a descoberta de que o clareamento dental pode ser feito apenas com o uso de luz violeta, Vitor desenvolveu um equipamento que integra um LED composto pela cor em questão. O aparelho já está sendo comercializado pela empresa MM Optics, no valor entre R$3 mil e R$5 mil. A proposta é que, a partir desse equipamento, os odontologistas possam fazer o clareamento dental em pacientes durante três sessões de trinta minutos, dividas em três semanas.

“É importante ressaltar que o clareamento dental não depende apenas da técnica utilizada, mas, também, do tipo de mancha que o paciente tem. Os pigmentos de manchas orgânicas, causadas por corantes, como o de café, são os mais fáceis de se quebrar”, pontua Vitor Hugo, acrescentando que as manchas inorgânicas, que podem ser provocadas por contaminação de sangue em caso de trauma dental, são mais difíceis de remover.

Os resultados de vinte e um casos de clareamento dental realizados com sucesso através do protótipo do novo aparelho deverão ser apresentados por Vitor na International Association Dentist Research(IADR), encontro internacional de pesquisadores em odontologia que ocorrerá em junho deste ano, na Coréia do Sul.

O trabalho experimental de clareamento em dentes bovinos foi apresentado por Vitor no 15th Biennial International Photodynamic Association Congress, que reuniu estudantes e pesquisadores da área de biofotônica, em 2015, no Rio de Janeiro. Em setembro daquele ano, o resumo desse trabalho foi destaque na revista científica Photodiagnosis and Photodynamic Therapy.

Rui Sintra / Assessoria de Comunicação do IFSC

Mais informações: (16) 3373-9770

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