Da Assessoria de Comunicação do IFSC
Uma pesquisa que vem sendo desenvolvido no Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP fornece alternativas para o tratamento da malária. O estudo é realizado no Grupo de Cristalografia (GC) do IFSC, sob a coordenação do professor Rafael Victorio Carvalho Guido.
A malária é uma doença infecciosa causada por parasitas do gêneroPlasmodium e tem ganhado cada vez mais atenção de diversos estudiosos. Embora tenha tido sua incidência reduzida, ainda faz muitas vítimas pelo mundo, principalmente crianças, o que traz um grande apelo aos círculos políticos e, sobretudo, acadêmicos, na busca de alternativas para a cura definitiva da doença.
Atualmente, existem diversas alternativas para o tratamento da malária, mas o problema é que o parasita causador da doença já aprendeu a “driblar” os medicamentos capazes de exterminá-lo, ou seja, os fármacos (inclusive aqueles desenvolvidos recentemente) que um dia já curaram organismos contaminados pela malária,são hoje praticamente obsoletos.
Proteínas-chave
Dos conhecimentos já coletados no estudo, sabe-se que o Plasmodium falciparum (agente causador da forma mais severa de malária) possui diversas proteínas-chave, com destaque para enolase que, no organismo do parasita, é de vital importância. A proteína, pertencente à via glicolítica, é uma das responsáveis pela produção de energia. “Se inibirmos enzimas relevantes da via glicolítica do Plasmodium, ele fica sem energia e morre”, explica Guido.
Para que essa inibição seja possível, é necessária a produção de uma molécula que tenha grande afinidade para se ligar à enolase do Plasmodium, impedindo que esta realize sua principal função, a produção de energia no parasita.
Até o momento, não existe nenhum fármaco que atue por meio desse mecanismo, ou seja, pela inibição da enolase. No entanto, o professor Guido e seus colaboradores conseguiram determinar a estrutura tridimensional em alta resolução da enolase (algo inédito no mundo), uma etapa extremamente importante para o desenvolvimento de novos medicamentos para a malária.
Ultrapassada essa etapa, a trajetória para produção de um fármaco fica ainda distante, mas com um obstáculo a menos a ser ultrapassado. O próximo passo será identificar moléculas que sejam capazes de inibir a enolase, ou seja, encontrar uma molécula que ocupe o sítio ativo da proteína, bloqueando sua ação e impedindo que ela produza energia para sobrevivência do Plasmodium falciparum. “Começaremos a trabalhar agora com o ‘processo de triagem’, para encontrar essas moléculas. Precisamos explorar a diversidade química para encontrá-las, investigando moléculas de origem natural, como as de plantas, ou sintéticas que possuam atividade biológica frente à enolase”, conta o cientista.
Para a determinação da estrutura da enolase, foram dois anos de pesquisa. Para encontrar moléculas promissoras candidatas a novos fármacos para a malária ainda não há previsão, muito menos para produção de um novo medicamento. Contudo, o que se sabe é que há muitas boas novidades na pesquisa em questão, o que faz surgir a expectativa de mais um ineditismo nessa pesquisa: um novo mecanismo de combate à malária.
No relatório “Derrotando a malária na Ásia, no Pacífico, nas Américas, Oriente Médio e Europa”, produzido pela ONU em 2010, foram registrados 34 milhões de casos da doença no continente africano.
O trabalho intitulado Estudos estruturais da enzima enolase de P. falciparum: alvo molecular para desenvolvimento de novos agentes antimaláricos, de autoria de Fernando V. Maluf; Evandro J. Mulinari; Eduardo A. Santos; Glaucius Oliva; Celia R. S. Garcia e Rafael V. C. Guido, foi premiado na 36ª Reunião da Sociedade Brasileira de Química, ocorrida entre 25 e 28 de maio deste ano.
Adriano Andricopulo e Ricardo N. Santos, respectivamente, docente e doutorando do GC/IFSC, e a professora Vanderlan Bolzani, do Instituto de Química da Unesp, criaram uma base de dados on-line sobre 640 compostos químicos extraídos da biodiversidade brasileira, e que será utilizada nessa etapa de pesquisa do projeto discutido nessa matéria.
Mais informações: (16) 3373-8673 / 3373-9874, email rvcguido@ifsc.usp.br