Pessoas com fobias têm área do cérebro diminuída

Os pesquisadores são da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e das Universidades Federais de São Paulo, Santo André, no Estado de São Paulo, e do Rio de Janeiro, RJ.

Rita Stella / Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus USP de Ribeirão Preto

A região do cérebro chamada cíngulo anterior do córtex apresenta-se com menor volume em pessoas com medo de aranha.  É o que revela exames de última geração, com aparelhos de ressonância magnética e de espectroscopia por ressonância em estudo de pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e das Universidades Federais de São Paulo, Santo André, no Estado de São Paulo, e do Rio de Janeiro, RJ.

A ciência busca respostas para as reações químicas e biológicas das pessoas que sofrem de fobias e, ainda, como é a anatomia das regiões do cérebro dessas pessoas. Apesar dos avanços científicos dos últimos anos, tentando explicar o funcionamento do cérebro humano para as emoções, pouco ainda se sabe sobre a origem do medo excessivo que é tido como um dos fatores que desencadeiam os transtornos de ansiedade.

O coordenador da pesquisa, professor José Alexandre Crippa, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP, conta que a falta de informações consistentes, principalmente em termos de imagens neurológicas em fobias, fez com que optassem por estudar um tipo bastante comum de fobia, o medo de animais,  que afeta 12% das mulheres e 3% dos homens, por meio de análises por ressonância magnética estrutural e espectroscopia por ressonância magnética (que faz estudo neurobiológico do cérebro).

A fobia escolhida foi a de aranha e a área a estudar foi o cíngulo anterior do córtex (ACC, em inglês). Essa região é conhecida pela relação com a percepção e conhecimento do medo e da ansiedade. Também está ligada ao circuito de ações condicionadas (aquelas aprendidas nas experiências da vida).

Anormalidades na percepção do medo

A pesquisa começou em 2010, quando selecionaram voluntários saudáveis e aqueles que sofriam com medo de aranha. Formaram dois grupos, com 17 e 19 pessoas, respectivamente, com equivalência em idade, escolaridade e nível socioeconômico. Nenhum dos participantes apresentava história de doenças neurológicas, psiquiátricas ou outra de relevância orgânica e nem faziam uso de medicação psicotrópica ou tinham abusado de drogas. Todos foram submetidos a avaliações clínicas e exames por ressonância magnética e espectroscopia no Hospital das Clínicas da FMRP.

Os resultados finais não encontraram alterações metabólicas (análise neurobiológica feita por espectroscopia), mas indicaram afinamento na espessura do cíngulo anterior do córtex (ACC) no grupo de portadores de fobia de aranha, quando comparado com o grupo saudável. Esses achados, garantem os pesquisadores, são importantes por detectar anormalidades em uma estrutura específica, podendo sugerir disfunção potencial dessa área cerebral.

No caso do volume diminuído da ACC que encontraram, “é possível que sejam uma consequência e não a causa das fobias”. É que essa região é ativada em distúrbios emocionais, em estresse pós-traumático e em ansiedade; estudos indicam ainda relação com processos de dor afetiva e, mais precisamente a área do hemisfério direito do cíngulo, ligações ao condicionamento do medo.

Assim, acredita Crippa, os achados de seu estudo podem ser uma consequência de fatores constitucionais e ambientais desses pacientes. A confirmação viria com estudos longitudinais — acompanhando as pessoas ao longo do tempo, para obter informações “quanto à ativação funcional antes que os sintomas de ansiedade comecem a se manifestar”.

Mesmo assim, alertam que pesquisas com neuroimagens em fobias ainda estão em fase inicial. Além desse estudo, relatam apenas outros dois, em todo o mundo, que avaliaram espessuras corticais nessas doenças. Um, mostrou aumentos em estruturas da área límbica (setor medial da superfície do cérebro que controla emoções e comportamentos sociais e que envolve a ACC), e o outro não encontrou nenhuma diferença em volume ou espessura dessas estruturas cerebrais.

Alertam também para o fato de que, apesar de a espessura cortical indicar integridade na arquitetura de regiões do córtex cerebral, não se tem evidências para dizer que a diminuição da espessura do córtex implique diretamente em patologias.

Mesmo sendo resultados ainda preliminares, exigindo novos estudos, os resultados dessa pesquisa brasileira mostram que esta área, o cíngulo anterior do córtex, está relacionada com patologias da ansiedade, especificamente com as fobias. Ajudam também na compreensão da neuroanatomia “dos circuitos de condicionamento e mecanismos do medo inato”.

O professor Crippa ressalta que, como os resultados mostraram diminuição na espessura de uma região paralímbica relacionada ao TOC (transtorno obsessivo compulsivo), síndrome do pânico e transtorno de estresse pós-traumático, eles são válidos também para essas formas de ansiedade e não apenas para as fobias.

Mais informações: email jcrippa@fmrp.usp.br

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