Virada Científica agita os oito campi da USP com atividades que, nos dias 17 e 18 de outubro, mostraram aos participantes um pouco do que a Universidade pesquisa e produz
“Trata-se da revelação de que a ciência não precisa ser triste nem estar fechada em um laboratório. A ciência pode e deve ser feita com alegria e sempre próxima das pessoas.” Com essas palavras, a pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária da USP, professora Maria Arminda do Nascimento Arruda, sintetizou o espírito da segunda edição da Virada Científica, que aconteceu nos dias 17 e 18 de outubro passados em todos os campi da USP, numa programação que reuniu 425 atividades durante 24 horas ininterruptas.
O evento, promovido pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, apresentou mais de 200 atrações só na cidade de São Paulo, além de atividades nos campi da USP no interior. A maior parte foi concentrada na Cidade Universitária, que teve atividades e palestras em faculdades e institutos e também um espaço central montado na Praça do Relógio. Com o tema “Vila da Virada”, esse espaço resgatou a relação entre ciência e a ocupação da cidade, propondo novos olhares para os temas urbanos que nem sempre têm sua relação com a ciência lembrada pelas pessoas.
Uma das novidades criadas para a edição deste ano foi o Passaporte do Conhecimento. Ao todo, foram distribuídos mil livretos, que simulavam um passaporte no qual era possível registrar as atividades frequentadas. A cada atividade realizada, o visitante ganhava um selo representativo de uma área do conhecimento – por exemplo, educação, biologia, astronomia, meteorologia, artes, oceanografia, matemática e ciências da computação –, num total de 15 selos diferentes.
Além disso, em todos os pontos de atividades da Virada, os participantes eram convidados a gravar vídeos respondendo à pergunta “Qual problema a ciência pode ajudar a resolver?”, tema do evento deste ano. Os vídeos foram divulgados no canal da Virada Científica na rede social Youtube e, segundo a organização do evento, servirão também para contribuir com o diálogo entre o público e a academia, já que permite detectar expectativas e estereótipos que poderão ajudar a nortear a programação dos próximos eventos.
Atrações
Um dos temas presentes em várias atividades na Vila da Virada foi o skate, na oficina Skate para Iniciantes e nas palestras “A inserção do skate no ensino superior no Brasil”, “Do skate às artes plásticas” e “A half pipe perfeita”, esta proferida pelo professor do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP Eduardo Colli, que também coordenou a Virada Científica.
As palestras aconteciam no palco principal da Vila, batizado de Ciencidade, com a participação de pesquisadores e professores da USP ou convidados especiais. Temas como “Mobilidade urbana não motorizada”, “As crianças da lua sob o sol tropical brasileiro” e “A pedagogia do palhaço” também fizeram parte da programação, que contou com apresentações, durante os intervalos, das baterias das atléticas de diversas unidades da USP. Ao redor do palco, tendas com oficinas do projeto Arte & Ciência no Parque divertiam e intrigavam o público com a magia dos efeitos de ótica e experimentos envolvendo sons, eletricidade e mecânica.
Logo ao lado, oficinas de biologia abordavam a biodiversidade, apresentando a riqueza da fauna – com destaque para um simpático bicho-pau, sucesso entre as crianças – e uma divertida oficina de extração de DNA de frutas. Uma tenda apresentava exposição sobre doenças negligenciadas, ao lado de um espaço com ginástica artística e oficinas de circo. Eduardo Colli afirma que “esse enfoque da Vila da Virada contribuiu com uma discussão bastante atual sobre o uso da rua, propondo trazer a visão da ciência sobre o espaço público, de forma interdisciplinar”.
Colli reforça que a estrutura e ambientação montadas na praça contribuíram para a integração das atividades. “Neste ano, ao transformar-se na Vila da Virada, a Praça do Relógio conseguiu agregar vários tipos de atividades de uma forma coesa e mais amigável ao público, que pôde circular pelo local e utilizá-lo como ponto central para ter informações sobre atividades nas unidades ou como apoio para alimentação, por exemplo”, conclui.
A Virada em São Paulo
Entre as palestras da Virada Científica que ocorreram nas unidades da Cidade Universitária, alguns destaques foram as abordagens de cientistas da USP sobre temas como obesidade, atividade física, terremotos, desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas, prevenção e controle do câncer, mídias sociais e violência. O saguão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) recebeu uma exposição de vertebrados, jogos de química interativos e a montagem de um espaço bastante curioso: uma célula gigante, na qual as pessoas podiam entrar e visualizar sua estrutura interna, passeando por entre estruturas como núcleo, complexo de Golgi e organelas.
No Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), uma das atividades que fez muita gente ir à USP logo cedo foi a Cientificamente: Oficina de C.S.I., na qual o público utilizou a ciência para descobrir o culpado de um crime fictício. No Cinema da USP (Cinusp), mesmo com o início do horário de verão, a madrugada foi animada: cinéfilos puderam apreciar o clássico O Mundo por um Fio, do diretor alemão Rainer Werner Fassbinder, das 23h30 de sábado até as 4 horas da manhã do domingo. O filme, baseado no romance Simulacron-3, aborda uma equipe de cientistas que cria um supercomputador, o Simulacron, capaz de simular a realidade e prever como a sociedade se desenvolverá no futuro. Nessa realidade virtual, milhares de “identidades programadas” vivem como seres humanos, completamente inconscientes de que não passam de números.
Outros locais da cidade de São Paulo também receberam atividades da Virada Científica: Centro Universitário Maria Antonia, Casa de D. Yayá, Museu de Arte Contemporânea, Faculdade de Medicina e Parque de Ciência e Tecnologia (Cientec). Neste último, os visitantes participaram de sessões de planetário e trilha ecológica guiada, em meio à mata das nascentes do riacho do Ipiranga. Durante a caminhada, o público teve a oportunidade de observar plantas nativas da mata atlântica e algumas espécies exóticas.
Para o professor de história e geografia Paulo César dos Santos, que acompanhou alunos da Escola Estadual Elza Saraiva Monteiro, no Jardim Peri, em São Paulo, a experiência foi bastante positiva. “Pouco se fala da USP para esses estudantes e grande parte desses garotos nunca tinha vindo aqui. Temos pouco acesso a esse conhecimento. Achei importante que eles viessem conhecer. Foi legal conversar com uma professora da USP que trouxe coisas novas para eles em relação ao esporte e também à USP”, disse, em referência à palestra “Atletas olímpicos brasileiros”, com a professora Katia Rubio, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE).
Já o casal Alexandre e Elaine Ripamonte levou as duas filhas para conhecer as atividades da Virada. “O que a gente curtiu é que é um evento muito bom para as crianças, onde se veem muitas famílias, pais, avós e filhos. É legal porque é uma forma de partilhar melhor esse conhecimento, torná-lo mais acessível ao público leigo, que não costuma ter contato com a ciência.”
Campi do interior também participam do evento
Se a primeira edição da Virada Científica, em 2014, aconteceu em São Paulo, Lorena, Santos e Itu, a edição de 2015 se destacou pelo crescimento na adesão das unidades do interior, com grande participação dos campi de Santos, Ribeirão Preto, São Carlos, Pirassununga, Bauru, Lorena e Piracicaba.
Para a professora Solange Rezende, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), em São Carlos, esse tipo de programação tem a capacidade de promover uma grande mobilização na cidade. “A mídia local deu um destaque muito grande ao evento e recebemos público vindo, inclusive, de cidades vizinhas.”
Entre as atividades oferecidas em São Carlos, um dos grandes sucessos foi a Virada de Desenvolvimento de Jogos em Computador, na qual os participantes tiveram contato com a linguagem de programação e criaram seus próprios jogos, com o auxílio de tutores. Além disso, também fizeram sucesso o Show da Física e os protótipos veiculares da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC).
Um balanço da pró-reitora
Para a pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária, Maria Arminda do Nascimento Arruda, o sucesso do evento demonstrou a demanda que existe por parte da população por um maior contato com a ciência. Para ela, “é papel da universidade pública levar aquilo que ela produz e pesquisa para todos, e um evento como este permite que isso seja feito de maneira informal, divertida e interativa, o que só ajuda a aumentar o interesse e o entendimento das pessoas sobre o tema”.
A pró-reitora destacou ainda como esse tipo de ação aproxima a ciência do cotidiano das pessoas. “É comum as pessoas pensarem que a ciência são apenas teorias abstratas estudadas em laboratórios isolados, mas não se dão conta de que o dia de cada um é feito de ciência, desde logo cedo, quando se abre um jornal ao tomar café da manhã: os processos industriais da fabricação daquele papel, a engenharia química por trás dos alimentos, tudo isso foi um dia uma pesquisa científica que está agora nas mãos das pessoas.”
O evento marcou também a participação da USP na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e que agrega programações especiais de popularização da ciência em todo o País.
Michel Sitnik e Veronica Cristo / Especial para o Jornal da USP