Em palestra no IPq, psiquiatras discutem ‘O que é ser normal?’

A nova edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ((Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), o DSM-V, foi assunto da palestra ministrada pelo professor Emérito de Psiquiatria da Universidade de Zurique e docente do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) Wulf Rössler no Instituto de Psiquiatria. O evento tinha como objetivo discutir o manual e trazer à tona - além das 300 patologias distribuídas por 947 páginas – a discussão se a psiquiatria conseguiria a façanha de transformar a “normalidade” em “anormalidade”. “O ‘normal’ seria ser ‘anormal’?”, pergunta Rössler.

A nova edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM-V, foi assunto da palestra ministrada pelo professor emérito de Psiquiatria da Universidade de Zurique e docente do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Wulf Rössler. O evento tinha como objetivo discutir o manual e trazer à tona – além das 300 patologias distribuídas por 947 páginas – a discussão se a psiquiatria conseguiria a façanha de transformar a “normalidade” em “anormalidade”. “O ‘normal’ seria ser ‘anormal’?”, pergunta Rössler.

Segundo a Associação Americana de Psiquiatria (APA), o Manual é utilizado por profissionais da área de saúde mental para listar as diferentes categorias de transtornos mentais e critérios para diagnosticá-los. É considerado a ‘Bíblia’ dos psiquiatras ao redor do mundo por clínicos e pesquisadores bem como por companhias de seguro e empresas farmacêuticas.

Atualmente, o DSM é utilizado em praticamente todos os países. É também usado como referência no sistema de classificação de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS). Vulgarmente, o manual é o responsável por ditar as regras de ‘normalidade’.

Origem

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais foi publicado em 1952 pela Associação Americana de Psiquiatria.

Ele foi criado em 1918 com o intuito de reunir a necessidade do Departamento de Censo americano de uniformizar estatísticas vindas de hospitais psiquiátricos, do sistemas de categorização do exército norte-americano e do levantamento dos pontos de vista de 10% dos membros da APA.

Críticas

Umas das maiores críticas ao projeto está direcionada a ‘vulgarização’ das patologias, uma análise que diagnostica quase tudo como provável distúrbio mental. “Seria muito mais apropriado refletir sobre o fato de que os problemas mentais são parte da condição humana e que só se transformam em transtornos psiquiátricos quando o indivíduo afetado não pode desempenhar papéis sociais por mais tempo”, afirma Rössler.

Allen Frances, responsável pelo DSM-4, é um dos maiores críticos da nova versão. Entre seus argumentos estão os numerosos diagnósticos infantis, assim como as medicações exageradas – ou até mesmo infundadas – que só aumentam os casos de doenças, como o Transtorno de Déficit de Atenção, que foi triplicado nas duas últimas décadas; o autismo, que teve um aumento de mais de 20 vezes; e o transtorno bipolar, que teve aumento de 40 vezes. “Nós não temos ideia de como esses novos diagnósticos não testados irão influenciar no dia-a-dia da prática médica, mas meu medo é que isso irá exacerbar e não amenizar o já excessivo e inapropriado uso de medicação em crianças”, cita Allen France em seu blog.

Em seu blog, Allen France, relata que o DSM-5 não deveria abrir espaço para o uso inapropriado de medicamentos em crianças. Suas críticas estão voltadas para o novo diagnóstico que categoriza a birra infantil como uma patologia mental chamada de ‘Transtorno Disruptivo de Desregulação do Humor’.

Em sua apresentação, Wulf Rössler chama a atenção para o fato de que não houve acordo sobre a melhor forma de definir e diagnosticar doenças mentais. “O limite distorcido com normalidade do DSM-5 causará hiper-inflação [do número de ‘doentes mentais’],  transformando tristeza normal e perda em MDD, ansiedade em GAD, ansiedade e tristeza em MAD, entre outros. São pequenas mudanças capazes de criar milhões de pacientes”, relata Rössler.

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