Mestre dos materiais naturais, arquiteto Kengo Kuma fala na FAU

Arquiteto japonês Kengo Kuma apresentou na FAU seus principais trabalhos, explicou como o processo de produção acontece e falou sobre o que lhe inspira a criar.
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Foto: Marcos Santos
Trabalhos do arquiteto japonês caracterizam-se pelo cuidado na escolha dos materiais e pela integração com a natureza

Na última quarta-feira, dia 12 de novembro, o renomado arquiteto japonês Kengo Kuma realizou uma palestra na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. Nela apresentou seus principais trabalhos, explicou como o processo de produção acontece e falou sobre o que lhe inspira a criar.

O evento, gratuito e aberto a todo o público interessado, foi promovido pela Escola da Cidade e pela FAU, contando com o apoio do Instituto Tomie Ohtake e da Construtora Toda do Brasil. Os professores da FAU responsáveis pelo evento são Álvaro Puntoni e Francisco Spadoni.

Kuma nasceu em Yokohama, Japão, e formou-se em arquitetura pela Universidade de Tóquio. Mais tarde, mudou-se para os Estados Unidos, onde continuou seus estudos na Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque. Ele já lecionou na Universidade de Colúmbia, na University of Illions at Urbana-champaign e na Universidade de Keio. Atualmente trabalha como professor na Escola de Pós-Graduação de Arquitetura de Tóquio. Além de manter atividades acadêmicas, Kuma dirige seu escritório de arquitetura Kengo Kuma & Associates (KKAA), com sede em Tóquio e Paris. Nele emprega mais de 150 arquitetos e elabora projetos de diversos tipos de escala.

Seus trabalhos estão entre os limites do teórico e do prático e são reconhecidos em todo o mundo, o que lhe concedeu diversas premiações. As mais recentes são o “Mister Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia do Art Prize”, o “Mainichi Art Award para Nezu Museum” e o “Decoração Officer de L’Ordes des Arts et Lettres (França)”.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A palestra que aconteceu no Auditório Ariosto Mila reuniu estudantes de arquitetura, professores e profissionais da área. Kengo Kuma deu ênfase ao planejamento dos projetos, que segundo ele é essencial para uma boa execução. Ao comentar sobre seu trabalho “Sarayoma Village Mountain”, apresentou a planta do esboço inicial, na qual destacava a área verde local que foi aproveitada no plano final, o que evidencia a integração com a natureza presente em seus trabalhos.

Outra construção apresentada por Kuma foi a “Bambu House”, obra com traçado contemporâneo que não deixa de seguir alguns postulados da arquitetura tradicional. A casa, que apresenta estrutura em bambu, segue todas as exigências de uma casa convencional, e possibilita a compreensão de que não é necessário grandes gastos para alcançar um bom resultado.

Entre os estudantes que ouviam o arquiteto, a obra que mais chamou atenção foi a “Casa Umbrella”. Sua estrutura, comparável a de uma pirâmide, faz transições ente um guarda-chuva tradicional e uma casa, reforçando o traço experimental do artista.

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Foto: Marcos Santos

Kuma destacou ainda a conexão entre os materiais usados e como desenvolveu as ideias. Para ele, cada projeto pede um tipo de ornamento, pois apresenta características próprias. Analisou também as diferenças entre a arquitetura oriental e ocidental na forma de encarar o vazio das obras – no ocidente, os trabalhos artísticos desenvolvidos por arquitetos tendem a ser mais materialistas, enquanto no oriente as pessoas enxergam com maior clareza a arte advinda do vazio, vendo-a inclusive como meio de contato entre a obra e quem a aprecia.

Segundo o professor Álvaro Puntoni, da FAU, a palestra realizada por Kuma foi um presente, uma vez que foi fruto de uma coincidência, já que o arquiteto estava no Brasil por questões comerciais. Para ele foi um momento único onde se pôde aprender com um profissional que dispõe de obras tão representativas e compartilhar de suas experiências. O professor ressalta ainda a relevância de eventos deste tipo para elevar a discussão sobre a condição da arquitetura no país.

Para Puntoni, entre as principais questões colocadas por Kuma estão como relacionar a arquitetura com a cidade e seu entorno mais próximo;  como estabelecer conexões com o urbano; e a arte de operar o vazio como elemento primordial da arquitetura, entendendo que seu trabalho apresenta um vínculo muito forte com o meio no qual está inserindo, dadas as diferenças entre a arquitetura no Japão e no Brasil. Se a safra atual da arquitetura contemporânea possui figuras expoentes, o arquiteto Kengo Kuma com certeza é uma delas.

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