As escolas de nível básico, fundamental e médio trabalham, em geral, com o conhecimento já estabelecido, ou seja, um conjunto de ideias entendidas como corretas e já comprovadas. Já as universidades trabalham com o conhecimento em construção. Estes dois mundos do ensino tendem a dialogar pouco – a interação entre jovens que ainda não estão na graduação e o que é concebido nos espaços universitários ainda é rara. Com o intuito de transformar essa realidade surgiu o programa Vivendo a USP, que através de atividades que permitem a troca de experiências, visa atuar como um elo entre alunos de escolas públicas e a Universidade.
O Vivendo a USP foi criado em 2011 e faz parte de um projeto maior chamado Novos Talentos da USP, que também abarca os programas Encontro USP-Escola e o A USP vai à Escola. O projeto é coordenado pela professora Vera Bohomoletz Henriques, do Instituto de Física (IF) da USP, e tem financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP. Além disso, conta com o apoio e engajamento de professores e alunos de diversos institutos da Universidade.
O projeto surgiu a partir da iniciativa de alguns professores da região de Perus, zona noroeste da cidade de São Paulo, que souberam do programa da Capes e procuraram a USP para desenvolvê-lo. Dentro do Novos Talentos da USP há ainda duas vertentes: a primeira de formação, que está voltada aos professores da rede pública de ensino, e a segunda que destina-se ao atendimento das escolas e alunos propriamente.
Dinâmica e ação multiplicadora
Para cada escola parceira do Vivendo a USP, cerca de quarenta alunos vão à Universidade vivenciar alguns dias em espaços educativos como o Museu de Arte Contemporânea (MAC), o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), a Estação Biologia, entre outros. O trabalho acontece durante quatro dias não-consecutivos, sendo os três primeiros formados por aulas e atividades oferecidas pelos espaços, e o quarto dia composto por gincanas que acontecem no Parque CienTec. As gincanas, por sua vez, se dão sob a forma de oficinas com base em todo o conteúdo visto pelos alunos durante as visitas.
Ainda que os museus e laboratórios da USP tenham visitas regulares voltadas aos alunos de escola pública, de acordo com a professora Vera, o diferencial do programa que ela coordena está nas ações conjuntas. “O principal atributo do Vivendo a USP é que nós trabalhamos junto com os professores da escola parceira e desenhamos as atividades ao longo do ano letivo em colaboração”, afirma.
Antes das atividades serem realizadas com os alunos, o espaço educativo oferece uma oficina aos professores a fim de inteirá-los sobre a abordagem que será dada ao tema e abrir espaço para contribuições. A professora Kátia Regina Varela Roa leciona química e física na escola Mario Manoel Dantas de Aquino, parceira do programa, e garante receber grande contribuição dos espaços que visita. “Matérias como física e química exigem experimentos para que os alunos compreendam o assunto, e nas escolas nós não temos laboratórios que permitam tais demostrações. Todos os equipamentos disponibilizados pelos espaços são fundamentais”, diz.
Segundo a professora Kátia, as atividades são pensadas de forma a terem relações com a vivência dos alunos. Além disso, os professores passam ainda na escola matérias introdutórias que contextualizem os exercícios práticos. “Em uma das visitas nós conhecemos o Instituto Butantan, entidade parceira da USP, isso porque a região da escola tinha um problema em relação a escorpiões. Na ocasião, os alunos aprenderam sobre o artrópode e, em seguida, o Instituto realizou um trabalho de microscopia na escola”, conta a professora.
Para a coordenadora Vera Bohomoletz Henriques, uma das principais características do programa é a ação multiplicadora proposta. “O projeto tenta ampliar a vivência dos quarenta alunos que conhecem a USP para toda a escola. Dessa maneira, tanto os professores interagem com o museu e sua equipe educativa, quanto os alunos que voltam para a escola e realizam atividades com seus colegas que não estiveram aqui”, pontua.
Função social
A USP, assim como outras universidades públicas, é orientada pelo tripé ensino-pesquisa-extensão. A função da extensão é levar para além dos muros da Universidade parte do conhecimento que ela produz, de forma a gerar um retorno social. De acordo com a professora Vera, a USP tem um acervo enorme de material para oferecer, contudo, faltam meios para que esse conhecimento seja divulgado mais amplamente.
“Algo muito comum é que esses alunos que visitam a USP desconheçam que ela é uma universidade pública, logo percebemos que todo esse conhecimento e acervos que existem na Universidade são pouco acessíveis à população em geral. Nós estamos em um ambiente público, por isso, é nosso dever divulgar o que fazemos”, afirma.
Desde o seu início, em 2011, o programa tem alcançado excelentes resultados junto aos alunos das escolas parceiras, como conta a própria professora Kátia Regina Varela Roa: “a turma que saiu o ano passado do terceiro colegial vinha ao Vivendo a USP desde o primeiro ano. Deles, 90% foram para a universidade, sendo que 30% para universidades públicas. Isso é um ganho maravilhoso, pois eles passam a ter vontade de estudar, além disso, nota-se o salto no rendimento de suas notas. É uma energia de motivação muito boa. nota-se o salto na nota dos alunos que participam. É uma energia de motivação muito boa”.
Os alunos da Escola Mario Manoel Dantas de Aquino registram em vídeo algumas de suas visitas à USP. O material está no canal da escola no Youtube.
Mais informações: (11) 3091-6652, site http://vivusp.if.usp.br, email vivendoausp2012@gmail.com
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