Da Assessoria de Comunicação da Esalq
Nos últimos anos, a Amazônia apresentou as maiores taxas de desflorestamento tropical no mundo. Aproximadamente 14% da cobertura vegetal original foi perdida. Segundo o biólogo Miguel Ángel Quimbayo Cardona, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, a degradação da floresta se dá por várias razões, como a atividade pecuária, a extração de madeira, os incêndios e os efeitos da fragmentação e da formação de bordas. “Historicamente, as explorações madeireiras foram desenvolvidas com técnicas convencionais, que geralmente produzem danos tanto na floresta quanto no solo”, afirma.
O pesquisador explica que a degradação do hábitat, a interrupção do deslocamento dos animais e das interações ecológicas entre os organismos são impactos diretos da exploração madeireira sobre a fauna silvestre, que depende da floresta. Por isso, durante os últimos cem anos, para avaliar detalhadamente os efeitos da exploração madeireira e das interferências antropogênicas no ambiente, pesquisadores têm observado a avifauna. “Devido a sua taxonomia bem estabelecida, que faz com que a maioria das espécies possa ser identificada facilmente em campo, a disponibilidade de informação biológica e ecológica de grande parte das espécies e a sensibilidade às mudanças específicas na estrutura da floresta, no microclima e na composição, as aves apresentam-se como um instrumento importante nesse processo”, explica.
Avaliação do Manejo Florestal
Em 1999 a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em conjunto como o Centro Internacional de Pesquisa Florestal (Cifor), a Fundação Floresta Tropical (FFT) e o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), estabeleceu uma série de diretrizes técnicas para promover o Manejo Florestal em terras firmes da Amazônia Brasileira, reduzindo os danos e facilitando a sua regeneração e integridade.
Para determinar a eficácia desse Manejo, Cardona desenvolveu, no Programa de Pós-graduação Recursos Florestais da Esalq, uma pesquisa avaliando as mudanças na estrutura da avifauna na floresta Amazônica de Paragominas, no Pará, particularmente no Centro de Manejo Florestal Roberto Bauch, nas Fazendas Rio Capim e Cauaxi. Segundo o pesquisador, a heterogeneidade do hábitat e a diversidade estrutural são os fatores mais importantes que determinam a riqueza de espécies em florestas nativa. “Quanto maior for o nível de extração de madeira, mais significativas serão as mudanças apresentadas pela estrutura da floresta e, consequentemente, maior o impacto da exploração sobre a avifauna”, explica.
O estudo, orientado pela professora Teresa Cristina Magro, do Departamento de Ciências Florestais (LCF), avaliou a comunidade, a riqueza e a abundância de espécies e de grupos funcionais de aves na Amazônia. Mediante observações diretas e identificações auditivas em pontos fixos, foi amostrada a avifauna em seis áreas de manejo florestal, sendo cinco exploradas em diferentes anos, 1997, 2000, 2003, 2006 e 2009, e uma não explorada. As amostragens de campo foram desenvolvidas nas temporadas de seca e chuva.
Conclusões
Foram registradas 235 espécies de aves nas áreas de manejo florestal. As informações coletadas mostram que existem diferenças significativas de riqueza de espécies entre as áreas de manejo florestal e entre os dois períodos de amostragem. “A resposta da comunidade de aves a esses fatores de modificação da estrutura foi imediata”, diz o pesquisador.
Cardona afirma que a área de manejo florestal com maior riqueza de espécies e abundância de grupos funcionais foi a área explorada em 2000, contraste evidenciado com a área não explorada, que teve a menor riqueza e abundâncias de grupos funcionais. “Esta área parece ter essa característica em acolher as espécies devido ao fato de não ter muitos limites com outras áreas de exploração e limita ao sul com a floresta matriz, que envolve a área de manejo florestal Rio Capim, tendo mais capacidade de suporte para as espécies afetadas pelas atividades de manejo florestal”, explica.
O trabalho mostrou que as espécies do interior da floresta, que requerem de cavidades de árvores para ninho e os grupos funcionais insetívoros, insetívoros de sub-bosque e nectarívoros-insetívoros de sub-bosque foram os mais afetados pelo manejo florestal, especialmente na área não explorada que teve atividades de pré-exploração e a área explorada em 2003 que foi afetada por distúrbios naturais antes da amostragem de campo. “A resposta a esse distúrbio natural por parte da comunidade de aves na área explorada em 2003 foi similar à área não explorada. Ou seja, o comportamento da avifauna tem um padrão semelhante quando acontecem fatores de modificação antrópicos ou distúrbios naturais”, conclui.
Mais informações: site www.esalq.usp.br