Além de representar um ato de extrema crueldade, abandonar animais constitui crime ambiental. Alguns donos, no entanto, continuam com esta prática, e a Cidade Universitária tem sido, há vários anos, alvo do problema. Com os animais já aqui, alguma coisa precisa ser feita. Por isso, a Prefeitura do Campus USP da Capital (PUSP-C) tem buscado parceria com a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) para pensar em ações.
No último dia 5 de setembro, uma reunião discutiu o conceito de “animal comunitário”, e um conjunto de políticas destinadas a estes animais, que dependem de uma ação conjunta da Prefeitura, dos voluntários e dos cuidadores.
Segundo Ricardo Prist, chefe técnico do Serviço de Sáude Ambiental da PUSP-C, a Prefeitura não dispensava tantas atenções aos animais anteriormente. Contudo, devido ao grande aumento da população – especialmente de cães – foi necessário pensar como seria estruturada a relação entre a comunidade USP e os animais. “Eles podem causar e sofrer sérios problemas estando abandonados dentro do Campus, e eu não me refiro somente a mordeduras – a transmissão de doenças também é uma grande preocupação”, explica Prist, ressaltando a importância de se implantar uma política de convivência.
Banalização da vida
O abandono de animais é um delito punível tanto com detenção quanto com multa. Mesmo assim, o número de animais abandonados na Universidade é expressivo. De acordo com os dados da PUSP-C, o número máximo de animais na Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira (Cuaso) deveria ser de 47, já que a Cidade possui 470 hectares – a Prefeitura do Campus estabeleceu o limite de um animal por 10 hectares. Entretanto, somente este ano, até mês de agosto, 110 animais foram capturados.
Eles podem causar e sofrer sérios problemas no Campus, e não me refiro somente a mordeduras.
Conforme a pesquisa de monitoramento realizada pelo professor da FMVZ Ricardo Dias, os animais entram, em sua maioria, devido ao abandono. Ficou evidenciado ainda que as portarias da Vila Indiana e o Hospital Veterinário também são fortes pontos de desova de animais, por se acreditar – equivocadamente – que o Hospital tenha condições de acomodá-los. “Os animais, por sua vez, permanecem no Campus por encontrarem condições como alimento, abrigo e mesmo algum conforto por parte daqueles que gostam de animais”, revela o professor.
Nova política
A nova política em relação aos animais no Campus já começou a ser empregada e consiste em uma série de processos para o monitoramento. Primeiramente, quando um animal é encontrado, é feito um relatório de evento. Essa atitude é tomada porque a PUSP-C entende o ingresso desses animais como um crime ambiental e criou uma Divisão Técnica de Gestão Socioambiental e, nessa área, a Seção de Monitoramento da Fauna, responsável pelo controle dos animais do Campus. O objetivo é denunciar os casos de abandono e promover a cidadania através do trato desses animais e do estímulo a uma convivência sustentável.
Após o registro do animal, ele é levado ao Hospital Veterinário (Hovet) e passa por uma bateria de exames para atestar sua saúde. Nesse ínterim, o animal recebe um microchip que contém informações básicas, como o número de registro na prefeitura. Além disso, teve início a doação de coleiras na cor azul com uma placa de identificação com alguns nomes pelos quais o animal é conhecido no Campus, para que seja possível diferenciar visualmente quais animais “pertencem” ao Campus.
A condição dos animais – sejam livres no Campus ou no abrigo – não é a ideal e nem substitui o lar.
Para Prist, a presença de animais conhecidos e aceitos pela comunidade é importante pois impede a entrada de animais novos e desconhecidos, além de equilibrar o ecossistema. Ao mesmo tempo, um limite máximo também é fundamental para que não haja competição e riscos aos outros animais ou à comunidade.
Ainda que os cuidados em prol dos animais sejam empregados, é importante lembrar que tanto a PUSP-C quanto o Hospital Veterinário entendem esta condição como uma situação extrema e temporária. “As pessoas abandonam os animais aqui [no Campus] porque acham que somos capazes ou responsáveis por esses animais. Nós não somos e nem podemos nos responsabilizar por todos. Embora sejam bem tratados, aqui eles são estressados, não possuem afeto ou atividade física adequada. A condição dos animais – seja livre no campus ou no abrigo – não é a ideal e nem substitui o lar”, ressalta Prist.
Como ajudar?
A comunidade pode contribuir de várias formas. Uma delas é auxiliando a PUSP-C ao comunicar os casos de abandono de animais no Campus, pelos telefones (11) 3091-4471, na própria Prefeitura do Campus, ou 3091-4222, junto à Guarda Universitária. A denúncia permite que o animal seja recolhido pela PUSP, evitando que provoque ou sofra acidentes. Caso o abandonador seja, de alguma forma, identificado, o caso pode ser levado à Delegacia do Meio Ambiente e ao Ministério Público.
Outro modo de ajudar é por meio da adoção dos animais. Para adotar um cachorro do abrigo provisório da USP, é preciso agendar uma visita pelos telefones (11) 3091-4823 ou 3091-4891. As visitas são marcadas de segunda a sexta-feira, das 8 às 16 horas.