Paulo Hebmüller / Jornal da USP
Jornal da USP – Como abordar os problemas da USP Leste?
Marco Antonio Zago – Eu dividiria essa questão em dois aspectos. Em primeiro lugar aquele relativo à possível interdição [nota da Redação: a entrevista foi feita antes da interdição da área da unidade, no dia 9 de janeiro]. Nesse caso, teremos que resolver os problemas agudos, que são essencialmente de falta de drenagem dos gases. Essa é a solução técnica e a Universidade a está providenciando. Cabe agora ver se a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) entende que há um progresso, porque queremos em primeiro lugar garantir a segurança das pessoas. Só estou interessado em que não ocorra a interdição se for tranquilo que as pessoas fiquem lá.
O outro aspecto é de fato o papel da unidade dentro da USP e dentro da zona leste. Aqui me permito ser ambicioso. Tenho certeza de que, com a ajuda dos professores e da comunidade da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), vamos construir um importante instrumento moderno e modelar de ensino e de integração da região à USP. Isso ainda ocorre de maneira muito deficiente, porque a USP Leste é cercada pelo exame vestibular, que é extremamente restritivo e não dá acesso à população da região. Temos que rediscutir o papel da unidade naquela área.
JUSP – A discussão da segurança na Cidade Universitária tem sido um tema forte dos últimos anos, inclusive pelo convênio que a USP firmou com a Polícia Militar (PM). Como o senhor pretende trabalhar nessa questão?
Zago – A Cidade Universitária é uma grande área de São Paulo que, na medida do possível, deve se integrar cada vez mais à cidade. E aqui, como em qualquer lugar na cidade, temos problemas de segurança. Temos que estar preocupados com a segurança no que diz respeito à vida e à propriedade, e precisamos de um instrumento para fazer isso. A PM é um instrumento? É, na cidade toda. Por que não seria aqui? Por que aqui queremos ter privilégios que não temos no Centro ou na avenida Paulista? Se há problemas relacionados com o comportamento da PM, isso nos interessa como cidadãos e como membros da USP, e temos que trabalhar para melhorar esse comportamento, mas não podemos reivindicar um tratamento de exceção.
Outro ponto é que certamente há lembranças do passado em que forças militares foram usadas para suprimir liberdades, no País inteiro e também na USP. Em 1968, não havia PM aqui dentro, e isso não impediu que fôssemos invadidos. Temos que confiar que vivemos num sistema democrático e que um governo democrático controla as suas polícias. O que vai garantir a democracia é a nossa capacidade de defendê-la. As forças de segurança não podem ser usadas para controlar a livre circulação de ideias e de manifestações. A presença da PM não tem relação com isso; é uma coisa do passado. A Universidade é um território para ideias discordantes e isso tem que ser preservado, desde que as pessoas se respeitem mutuamente e respeitem o direito de quem pensa de forma diferente.
Finalmente, temos que considerar a segurança própria da USP. Confesso que não conheço bem toda a questão, mas entendo que esse tema precisa ser reestudado. O próprio convênio da USP com a PM precisa ser revisto com espírito desarmado. Levando em conta essas duas vertentes – que todos que convivemos no campus queremos a segurança de nossa vida e de nossa propriedade, e que nenhum de nós quer ser oprimido por pessoas que pela força queiram nos impor uma ideia ou outra –, temos pessoas na USP que se dedicam a essa questão e podem nos ajudar. O Núcleo de Estudos da Violência (NEV) é um dos exemplos das contribuições internas que podemos ter.