Estudo da Esalq aponta falta de padronização em produção de biodiesel de sebo bovino

Pesquisa avaliou o os problemas do sistema agroindustrial do biodiesel cuja matéria-prima é o sebo bovino. Esse tipo de biodiesel é responsável por de 9 a 15% do mercado.

Ana Carolina Miotto/Assessoria de Comunicação da Esalq

Pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP em Piracicaba, aponta as variáveis que podem aumentar a eficiência da cadeia do biodiesel que utiliza sebo bovino como matéria-prima, indicando a integração vertical como regime de governança mais adequado para o setor. O trabalho do economista Gabriel Levy mostra que a produção de biocombustível com sebo apresenta problemas na aquisição da matéria-prima, pela falta de coordenação na cadeia produtiva entre frigoríficos, graxarias e usinas de biodiesel.

Na pesquisa, orientada pela professora Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES), foi realizado um estudo multi-caso com oito usinas de biodiesel no Brasil que utilizam sebo bovino como matéria-prima. De acordo com o pesquisador, o fato do País possuir o segundo maior rebanho bovino do mundo, aliado ao baixo preço da matéria-prima e ao alto aproveitamento desta na produção de biodiesel (até 93%), podem explicar o desenvolvimento dessa indústria no país.

Levy afirma que a utilização desta fonte de matéria-prima de um lado permite a expansão da produção sem a concorrência com a produção de alimentos, e de outro pode ser uma forma ambientalmente melhor de destinação do resíduo. “O biocombustível revelou-se um possível destino para o sebo, além dos cosméticos, sabões e ração animal, e pode resultar na menor geração de danos ambientais, como contaminação de solos e lençóis subterrâneos no despejo do material no ambiente”, ressalta.

De acordo com o economista, a falta de um mercado organizado traz problemas referentes às oscilações do preço deste produto, bem como sobre a qualidade da matéria-prima, constituindo-se um ponto relevante, visto que um material de má qualidade pode implicar na geração de custos adicionais aos produtores de biodiesel, pela necessidade de tratamento do sebo e purificação dos resíduos pelas usinas. “A maior consequência desse problema é a geração de um combustível de má qualidade”, aponta.

Integração

A pesquisa conclui que a integração vertical pode ser considerada a estrutura de governança mais apropriada para a produção de biodiesel a partir de sebo bovino, dada a falta de padronização existente. Levy explica que o sebo é um ativo com especificidades técnicas e físicas, o que atesta tanto a necessidade de criação de normas técnicas para a padronização da matéria-prima, como também a extensão do selo social ou criação de certificação ambiental para o sebo bovino a fim de melhorar a coordenação entre os agentes das transações por meio de políticas públicas, o que poderia estimular a diversidade de matérias-primas além da possibilidade de abatimento das emissões de gases poluentes pela atividade pecuária.

“A verticalização representaria um meio de reduzir os riscos associados à baixa qualidade do material, como também diminuir custos vinculados à informação sobre o produto. Neste sentido, a questão relacionada à informação justifica a percepção de que a integração vertical possa ser a configuração mais apropriada, uma vez que internalizaria as transações e reduziria os problemas relativos ao fornecimento”, aponta o pesquisador. “Assim, a integração não apenas traria modificações positivas para ampliação do uso da matéria-prima na produção do biodiesel, como também possibilitaria alterações estruturais nas formas de comercialização do sebo”.

A implantação do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), em 2005, estimulou a produção de oleaginosas a partir da agricultura familiar e a negociação do biodiesel por leilões, impulsionando o desenvolvimento da indústria de biodiesel no país. Hoje, aproximadamente 80% da produção brasileira de biodiesel provem da utilização do óleo de soja e de 9 a 15% advêm do uso de sebo bovino.

A participação do sebo em 2009 foi quase seis vezes superior à soma do uso da mamona e da palma. Porém, a gordura bovina ainda é pouco associada à produção de biodiesel, seja pela incipiência de um mercado organizado para o sebo ou pelas poucas informações acerca das transações entre fornecedores e as plantas produtoras de biodiesel.

Mais informações: (19) 3447-8613,  3429-4485 / 4109

Scroll to top