Com aparelho inovador, laboratório faz análise muscular do assoalho pélvico feminino

Pesquisa do LaBiMPH analisa a distribuição de cargas do assoalho pélvico em mulheres com incontinência urinária, disfunções sexuais e praticantes de pompoarismo.

O termo ainda pode ser um estranho para boa parte das pessoas, mas a saúde do assoalho pélvico tem papel importante na qualidade de vida, principalmente das mulheres. Esta complexa estrutura composta de músculos, ligamentos e outros tecidos é quem sustenta os órgãos da região da pelve, como a bexiga e o intestino delgado, mantém a continência urinária e fecal e influencia a atividade sexual – isso graças a força e capacidade de sustentação de sua musculatura. Muitas mulheres, no entanto, não são nem mesmo capazes de contrair o assoalho pélvico voluntariamente, tendo estas funções prejudicadas.

No Laboratório de Biomecânica do Movimento e Postura Humana (LaBiMPH) da USP, uma pesquisa passou a investigar a distribuição de cargas do assoalho pélvico em mulheres com incontinência urinária, disfunções sexuais e praticantes de pompoarismo (técnica voltada ao treinamento da musculatura vaginal com o objetivo de melhorar a vida sexual). A análise está sendo desenvolvida pela doutoranda Licia Pazzoto Cacciari e pela aluna de Iniciação Científica Amanda Amorim, sob orientação da professora Isabel de Camargo Neves Sacco, que é coordenadora do Laboratório.

Sediado no Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional (Fofito) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), o LaBiMPH já utilizava em seus estudos sensores para mensurar a distribuição de pressão e forças de contato, por exemplo, na pisada de pacientes diabéticos. Esse conhecimento foi utilizado para desenvolver um equipamento inovador voltado ao assoalho pélvico feminino: um cilindro coberto de sensores elásticos calibráveis que permite obter um mapeamento tridimensional das forças e pressões intravaginais. “Em outros aparelhos era possível medir a força, mas não se sabia de onde ela vinha. Este sensor permite enxergar quais partes do canal vaginal têm mais força, e isso ajuda a entender a fisiopatologia das doenças”, explica Licia.

Foto: Divulgação / LaBIMPH
Foto: Divulgação / LaBIMPH

(Leia mais sobre o LaBiMPH em Biomecânica é aliada para entender saúde do movimento humano)

O Pliance® cylinder mat, fabricado pela empresa alemã Novel, foi adaptado especialmente para este fim. Em 2014, a proposta foi apresentada por Licia em Cambridge, nos Estados Unidos, em um evento da área e ganhou o prêmio de ideia mais promissora. No mesmo ano, a equipe do LaBiMPH conquistou o segundo lugar na Olimpíada USP de Inovação na categoria “Prova de Conceito”.

Avaliações

As mulheres que participam do estudo respondem a um questionário anônimo que, entre outras informações, busca compreender o impacto dos problemas uroginecológicos em suas vidas. “Às vezes a incontinência urinária é tão grave que a mulher não consegue sair de casa, fazer nada. Ela pode perder urina ao tossir, espirrar, por exemplo. Em casos graves, é comum que procurem uma cirurgia, mas em outras condições é importante dar a chance de fazer um tratamento conservador, ou seja, com exercícios que melhores o problema – essa deveria ser a primeira opção”, afirma a doutoranda.

Foto: Divulgação / LaBIMPH
Foto: Divulgação / LaBIMPH

Na maca, as participantes são submetidas à avaliação funcional do assoalho pélvico, primeiramente, pela fisioterapeuta Anice de Campos Pássaro, da FMUSP. Depois, são feitas as avaliações com o sensor: pede-se que façam vários exercícios, como contrair e relaxar rapidamente, contrair por alguns segundos e relaxar, e fazer movimentos ondulatórios lentamente. A pesquisadora conta que muitas das mulheres têm dificuldade em realizar o que é pedido, pois nunca haviam feito nada parecido.

“Se a gente treina essa musculatura com exercícios, a mulher adquire consciência desta parte do corpo, que é negligenciada, e consegue prevenir diversos problemas”, afirma Licia. Mulheres grávidas, por exemplo, podem realizar treinamento do assoalho pélvico para facilitar a saída do bebê no momento do parto. Isto poderia prevenir a laceração dos músculos do assoalho pélvico durante o parto vaginal.

Voluntárias

Foto: Divulgação / LaBIMPH
Foto: Divulgação / LaBIMPH

O estudo de Licia Cacciari se propõe a avaliar 100 mulheres. A meta já foi quase atingida, mas a intenção é continuar realizando as medições. Interessadas em participar da pesquisa podem entrar em contato com a equipe pelo email labimphfofito@gmail.com ou pelo telefone (11) 3091-8426.

As voluntárias devem ter entre 18 e 60 anos, com até dois filhos, e apresentar incontinência urinária, disfunção sexual ou serem praticantes de pompoarismo há pelo menos três meses. O grupo também está aberto para avaliação de mulheres sem queixas ou treinamentos, contanto que na mesma faixa etária (18-60 anos) e que não tenham feito mais de dois partos.

Além do diagnóstico funcional, o grupo orienta sobre a prevenção e o tratamento das disfunções mencionadas. O estudo é desenvolvido com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

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