Curso traz ferramentas para aumentar confiabilidade da pesquisa em saúde

Curso de Especialização inédito quer aumentar a capacidade técnica e produtiva dos pesquisadores, dando a eles as melhores ferramentas para a sintetização da evidência científica.
Foto:  Carlos Paes / freeimages.com
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Revisões sistemáticas servem para identificar o estado da arte de qualquer área do conhecimento

A pesquisa científica, desde sua origem, fundamenta-se em práticas e métodos bem determinados. Na área da saúde, por exemplo, é uma metodologia confiável que garante a validade dos resultados obtidos nos estudos, e assim os conhecimentos gerados podem ser aplicados pelos profissionais – ou pelo menos servir de base segura a outras pesquisas.

Uma especialização oferecida pelo Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) será a primeira do gênero no mundo a capacitar pesquisadores em duas das metodologias mais valorizadas no cenário científico atual: a revisão sistemática e a metanálise.

Aulas teóricas, presenciais, além de discussão de dúvidas via chat fazem parte do Curso de Especialização em Revisão Sistemática e Metanálise, que tem como objetivo formar pesquisadores aptos a executar estes métodos de pesquisa em suas respectivas áreas de conhecimento.

Diferenças

 Foto: Divulgação
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João Amadera: revisões bibliográficas tendem a ser enviesadas

A revisão sistemática utiliza técnicas que permitem identificar as “melhores” pesquisas sobre um tema escolhido, isto é, as que ocupam o topo da hierarquia em relação às evidências científicas. Por meio de uma busca sistemática por evidências sobre um dado tema e metodologia própria, ela permite que os especialistas obtenham uma visão completa, imparcial e mais precisa sobre o efeito de uma intervenção ou fator prognóstico, por exemplo.

A diferença entre a revisão sistemática e a revisão bibliográfica – método comum em que pesquisadores comparam criticamente a bibliografia escrita sobre um mesmo tema – está na imparcialidade da primeira. De acordo com um dos coordenadores do curso, o médico João Amadera, “revisões bibliográficas tendem a ser enviesadas, pois o autor sempre terá uma hipótese a priori e irá identificar os estudos ou evidências que a corroborem”.

Juntamente com este gênero de estudo em crescente difusão no mundo acadêmico, está a chamada metanálise. Trata-se um método estatístico que integra os resultados de diferentes pesquisas em uma única estimativa de resultado. “Dessa forma, é possível estimar uma magnitude de efeito mais confiável e precisa”, reforça o professor.

As metodologias em pauta no curso despertam interesse dos pesquisadores também por viabilizar uma maior produtividade científica, muitas vezes dispensando a condução de outros estudos onerosos em tempo e dinheiro.

Relevância no Brasil

A equipe coordenadora propôs o curso, pioneiro no mundo inteiro, por entender que essa é uma ferramenta importante não só para a carreira do pesquisador, mas porque permite contestar  “verdades” que são impostas por especialistas, muitas vezes com conflitos de interesse para dizer, por exemplo, que um medicamento ou terapia é mais eficaz do que o outro, quando não há evidência confiável que se permita afirmar isso.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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A metanálise é uma ferramenta estatística usada para sintetizar resultados dos estudos com maior grau de evidência científica

Dessa forma, através da realização de uma revisão sistemática, um profissional tem ferramentas para criticar e formar sua própria opinião em relação à conduta clínica mais adequada. “Pesquisamos todos os cursos oferecidos no assunto e esse realmente é o pioneiro”, confirma Amadera.

A decisão de promover a especialização foi pautada na realidade do Brasil, considerando o fluxo necessário para incorporação de tecnologias pelo SUS. De acordo com a atual legislação, uma entidade física ou jurídica que quer que uma tecnologia em saúde – medicamento, protocolo de avaliação, recurso terapêutico ou um novo método diagnóstico, por exemplo –  seja disponibilizada pelo SUS, deve apresentar um dossiê de incorporação. Este dossiê é basicamente é composto de três etapas, uma delas sendo a revisão sistemática da literatura sobre o assunto.

Neste aspecto, Amadera destaca que os professores envolvidos no curso são especialistas com importantes publicações na área. Entre eles, está a coordenadora Anna Buehler, que é autora das diretrizes do Ministério da Saúde sobre revisões sistemáticas relativas a ensaios clínicos randomizados, estudos observacionais e estudos de acurácia diagnóstica.

Ferramentas estratégicas

Além dos profissionais de saúde, que são o foco da especialização, o curso também é recomendado para especialistas de diferentes áreas. “Revisões sistemáticas servem para identificar o estado da arte de qualquer área do conhecimento”, conta o médico. “Compreendendo a metodologia, um educador social pode identificar quais programas educacionais funcionam melhor em determinada situação para determinado assunto, por exemplo”, complementa.

Ao enfatizar que o conhecimento deve ser encarado como estratégico, Amadera reitera que o curso busca aumentar a capacidade técnica produtiva do pesquisador brasileiro, que saberá lidar com ferramentas para sintetizar as evidências científicas. E, como desdobramento, oferecer um melhor atendimento ao paciente ou usuário, disseminando métodos que indicam quais condutas são realmente eficazes.

As aulas serão ministradas de 26 de março de 2015 a 26 de março de 2016. Os interessados devem se inscrever pelo site do curso até o dia 28 de fevereiro. A taxa de matrícula é de R$ 700,00 e a mensalidade é de dez parcelas de R$ 700,00. O curso acontece na própria FMUSP, na Av. Dr. Arnaldo, 455, Cerqueira César, São Paulo.

Mais informações: (11) 3061-7454, email joao@fmusp.org.br

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