Um plano terapêutico fonoaudiológico desenvolvido na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) permite que pacientes com doença de Parkinson possam superar problemas de perda de potência de voz, articulação e fluência da fala. Os exercícios, realizados no Ambulatório de Processamento Motor da Fala, do Serviço de Fonoaudiologia do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP, levaram os pacientes a melhorarem sua intensidade vocal e o entendimento da fala. Também há um aumento no número de interlocutores e no tempo de conversa, o que conduz a um maior convívio social.
A ideia do plano surgiu a partir do início das atividades do Ambulatório de Disfagia do HC, em 2008. “Entre os pacientes, havia casos de fraturas na face e queimados, mas também de portadores da doença de Parkinson”, diz a fonoaudióloga Fabíola Juste, que participa da aplicação do programa. “Os pacientes com Parkinson traziam queixas relacionadas a perda de potência vocal e fluência da fala, além de dificuldades de comunição, o que motivou a criação de um ambulatório específico”. O plano, baseado no Tratamento de Voz Lee Silverman (LSVT), criado nos Estados Unidos, começou a ser aplicado em 2012.
A maioria dos pacientes atendidos no ambulatório são homens, na faixa dos 50 a 60 anos de idade. “No entanto, alguns deles tiveram a doença diagnosticada há mais de 15 anos. Além disso, há um grande número de jovens com Parkinson que passam pelo atendimento”, afirma a fonoaudióloga. “A aplicação do plano vai depender não apenas da idade, mas também do grau de severidade da doença. Normalmente, casos onde também há um quadro de demência associada inviabilizam o tratamento, devido a perda de compreensão”.
Fabíola relata que, em geral, os pacientes que chegam ao ambulatório falam muito baixo, devido a perda de potência vocal. “A voz é quase sussurrada e mal articulada, pois eles falam com a boca praticamente fechada”, relata. “Muitas vezes, não há um contato visual com o interlocutor e, em alguns momentos, há uma aceleração repentina da voz, atropelando as palavras”.
Terapia
Ao todo, são realizadas oito sessões com os portadores de Parkinson. Nas duas primeiras é feita a avaliação do paciente, onde gravações da voz são submetidas a uma análise acústica em laboratório. “Nas quatro sessões seguintes acontece a terapia, com duração de 45 minutos. Os pacientes realizam exercícios de voz, para aumentar a capacidade respiratória e a atividade vocal. Também exercitam a articulação, para aumentar a abertura mandibular”, conta a fonoaudióloga. “Na parte de fluência, eles são orientados para a manutenção do ritmo e o controle da velocidade, para não falarem rápido”.
Os pacientes começam a terapia com atividades de leitura, que exigem menos elaboração da fala, até chegarem a situações mais complexas, de fala espontânea. “O tratamento é finalizado com duas sessões de reavaliação. Três meses depois é feita uma nova avaliação, para controle”, aponta Fabíola. “Há uma melhora da intensidade vocal. A fala é mais inteligível e os pacientes passam a falar com mais interlocutores, por mais tempo. O convívio social se amplia”, destaca Fabíola. As sessões de terapia contam com a participação dos familiares e cuidadores dos pacientes, de modo que também aprendam os exercícios para auxiliar na sua realização em casa, com segurança.
A aplicação do plano é supervisionada pelas professoras Cláudia Andrade, Kátia Nemr e Letícia Mansur. Elas contam com o apoio de três professoras assistentes, Fabíola Juste, Márcia Simões (doutoras em Fonoaudiologia) e Marcela Silagi, que realizam os atendimentos no ambulatório. O plano é descrito no artigo “Plano Terapêutico Fonoaudiológico para Intervenção na Doença de Parkinson”, que integra o livro “Planos Terapêuticos Fonoaudiológicos Volume 2”, que será lançado neste ano pela editora Pró-Fono.
Fabíola irá iniciar uma pesquisa sobre fluência da fala em casos de gagueira neurogênica, decorrente de problemas neurológicos, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Embora seja uma queixa muito comum entre os pacientes, há poucos estudos sobre esse tipo de gagueira na literatura científica”, observa a fonoaudióloga. “O estudo irá verificar os padrões de fluência de voz em grupos de pessoas com Parkinson, que foram vítimas de AVC e sofreram traumatismo craniano”.
Júlio Bernardes / Agência USP de Notícias
Mais informações: email fjuste@usp.br, com Fabíola Juste