Hérika Dias / Agência USP de Notícias
Um grupo de cientistas da USP, em Ribeirão Preto, está pesquisando substâncias químicas que podem agir contra um dos efeitos colaterais da doença de Parkinson: os movimentos involuntários anormais e repetitivos do corpo, chamados de discinesias. Estudos apontam que essa disfunção pode ser controlada com a regulação do neurotrasmissor óxido nítrico. Ele é um gás que atua na comunicação entre neurônios e está presente no sistema nervoso central nas regiões do cérebro afetadas pelo Parkinson.
Tanto o óxido nítrico quanto a dopamina, outro neurotrasmissor, agem em conjunto para que os movimentos do corpo sejam realizados devidamente. Em pessoas com a doença de Parkinson, há uma diminuição progressiva dos neurônios ligados à dopamina, afetando os movimentos. O tratamento atual consiste, principalmente, em um medicamento à base de L-Dopa, substância precursora da dopamina, ou seja, o paciente recebe o remédio e o organismo transforma a substância no neurotransmissor dopamina, melhorando os sintomas da doença de Parkinson (lentidão dos movimentos, dificuldade de caminhar etc) .
“Como o tratamento é longo, com o passar do tempo o paciente desenvolve um efeito colateral ao medicamento e começam a surgir os primeiros sintomas de discinesias”, explica a pesquisadora e professora Elaine Del-Bel, do Departamento de Morfologia, Fisiologia e Patologia Básica da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP. “Se antes a pessoa não conseguia comer sozinha porque não era capaz de iniciar o movimento, depois do tratamento com L-Dopa (aproximadamente cinco anos), ela não come porque os movimentos são muito intensos e descontrolados, a mão não tem estabilidade para segurar, por exemplo, um copo de água sem derrubar”. Este é um estudo que vem sendo desenvolvido desde 1998 com a participação de alunos de mestrado, doutorado e a colaboração de professores do Brasil e do exterior.
De acordo com Elaine, o grupo já possuía conhecimentos sobre as atividades do óxido nítrico sobre a produção de movimentos quando começaram a testar substâncias para inibi-lo. “Ele atua sobre vários neurotransmissores, por isso quando se regula a sua quantidade, também se controla os níveis, por exemplo, da dopamina. Isso faz os movimentos involuntários diminuírem, praticamente desaparecerem”.
Testes com animais
O grupo de pesquisa de Ribeirão Preto já realizou testes em animais com duas substâncias para inibir a ação do óxido nítrico: o 7-nitrato-indazol e o azul metileno, e os resultados foram promissores. Em 2009, o grupo publicou na revista Neurosciense os efeitos do primeiro composto testado, o 7-nitrato-indazol.
No laboratório, foram injetados diretamente no cérebro de ratos e camundongos uma neurotoxina para destruir a maior parte dos neurônios dopaminérgicos. “Quando esses neurônios são destruídos, eles vão produzir nos animais alguns sintomas que ajudam a estudar características da doença de Parkinson. Aproximadamente um mês depois da lesão, os animais receberam o medicamentos L-Dopa, por aproximadamente um mês, apresentando, então, os movimentos involuntários anormais ou discinesias. Em seguida, passamos a tratá-los com a L-Dopa e o inibidor da síntese de óxido nítrico 7-nitrato-indazol. Percebemos que essa substância impedia os movimentos involuntários e os animais melhoravam. O efeito muito provavelmente ocorre pela diminuição na produção do óxido nítrico”, descreve Elaine.
Entretanto há um problema com os inibidores da produção de óxido nítrico como o 7-nitrato-indazol, segundo a pesquisadora: eles ainda não são autorizados para uso em humanos. A indústria farmacêutica teria que desenvolver um medicamento para este fim, pois não há nenhum similar para tratamento humano. E isso demandaria grandes investimentos e tempo. Por isso, os testes foram direcionados para outra substância já utilizada em humanos: o azul de metileno.
Ele é um corante bacteriológico e indicador muito utilizado em unidades de terapia intensiva. “Assim como o 7-nitrato-indazol, ele também, de uma forma indireta, inibe a síntese de óxido nítrico. Nos testes com animais, ele teve bons resultados para frear as discenisias. Agrande vantagem do azul de metileno é ser uma substância já aplicada em seres humanos”, afirma a pesquisadora.
De acordo com Elaine, o grupo de pesquisa tem planos de iniciar testes do azul de metileno em pacientes com a doença de Parkinson. “Dentro de um ano, talvez, possamos começar o estudo com pessoas”.
Mais informações: email eadelbel@forp.usp.br